Laranja Mecânica, Usain Boat, Inafundável IV, Iceberg, Barco do Bruno, Pérola Negra, Francis e Elizabeth II cortam a superfície da água. Não é, no entanto, a força do vento que os impulsiona, como impulsionou em 1988 o barco de Lars Grael e de seu proeiro, Clínio de Freitas, rumo ao bronze olímpico de Seul. Quase trinta e cinco anos separam aquele dia 27 de setembro no fim dos anos 1980 da noite chuvosa de junho em que um agora grisalho Clínio observa barcos em tamanho diminuto cortarem as águas da piscina do Iate Clube. A guiá-los, jovens com celulares em punho demonstram concentração. Essa é uma competição, afinal, com direito a pódio, troféu e medalha, entregues por quem entende de barco. Em 29 de junho, alunos de Sistemas de Informação puderam praticar programação, robótica e Internet das Coisas participando de uma corrida de barquinhos remotamente controlados, tendo presença de dois campões da vela no júri: Clínio de Freitas e sua esposa, Cláudia Swan, medalhista pan-americana nos jogos de 1992.
O casal recepcionou os lassalistas no Iate Clube de Niterói, levando junto toda a família: o primogênito Caio, o filho do meio, batizado com o mesmo nome do pai, e a caçula Camila. Veio do segundo filho a ideia de receber naquele espaço seus colegas de curso. Sua atuação, no entanto, foi além do convite. Clínio Marcelino de Freitas foi monitor da disciplina de Sistemas Distribuídos em 2023.1. Enquanto construía seu próprio barco para participar da competição, auxiliou a turma nos desafios que surgiram. Um deles foi estabelecer a ligação da programação com a parte elétrica das embarcações.
Na primeira foto, os medalhistas Clínio de Freitas, Cláudia Swan ao lado dos filho Caio e Camila. Na segunda imagem, Clínio auxilia os colegas na montagem dos barcos
“Trabalhamos com correntes e tensões muito baixas, então não corríamos risco, mas o meu medo era danificarmos os equipamentos. Alguns tinham os seus próprios equipamentos e outros foram fornecidos pela faculdade. No fim, do total de 10 barcos conseguimos colocar oito na água, dois eu aconselhei não fazer isso porque não foi possível terminar a tempo e era arriscado”, recorda o aluno. Clínio chegou a se deparar com algumas peças eletrônicas dos colegas queimadas, ajudou a pensar em soluções, doou uma placa do seu barco e em 12 horas precisou inovar para colocar o Laranja Mecânica em pleno funcionamento. Esse é o tipo de atividade, no entanto, que o motiva, como explica em entrevista ao site do Unilasalle-RJ:
“Eu tinha participado do Hackathon no ano passado e já tinha ficado fascinado por conseguir que os sensores dessem retorno de forma mais fácil do que eu imaginava. Nos primeiros períodos você fica muito na sala de aula, aprendendo a teoria e praticando no computador, porque não adianta você criar alguma coisa se não tem o conhecimento básico. Eu anseio muito por outras disciplinas assim, em que possamos conectar o mundo real com a programação, fazendo as coisas funcionarem”.
Sua fala parece ecoar os depoimentos da mãe e do irmão. Cláudia Swan parabenizou o centro universitário por investir no ensino prático e se mostrou feliz ao saber que essa também é uma premissa no curso de Arquitetura e Urbanismo. “Sou formada em Belas Artes, mas por muito tempo trabalhei com Arquitetura. E o que já reparei é que se você falar para o arquiteto: ‘Aqui está o tijolo, o cimento, constrói essa parede’, muitas vezes ele não tem ideia nem de por onde começar”, atestou Cacau. Já Caio Swan lembrou do seu próprio percurso como estudante. Hoje engenheiro naval com mestrado em automação de navios, ele participou de um projeto semelhante na faculdade: “Temos um barco a vela de controle remoto, que acabei desenvolvendo a partir de um conceito muito parecido com o dessa aula. Nesse mesmo lugar, nessa mesma piscina. No final da Engenharia Naval, comecei a estudar automação e por conta própria eu uni as duas coisas. Colocar para acontecer no arduíno, ter esse objetivo final de fazer o barco se movimentar e lidar com os problemas que vão aparecer te ensinam mais do que a teoria”.
Os lassalistas foram avaliados em duas modalidades. Na primeira delas, foi montado um pódio a partir do tempo de percurso. Os barcos precisavam ir de uma ponta à outra da piscina tendo a trajetória cronometrada. Já na segunda competição, foi avaliado o projeto final do barco. A família anfitriã distribuiu medalhas de ouro, prata e bronze, junto de barquinhos confeccionados na impressora 3D do Unilasalle-RJ, um equipamento a que Clínio agora tem acesso. Sua próxima empreitada é criar um drone na impressora e cuidar da parte elétrica a partir do que aprendeu junto da turma em Sistemas Distribuídos. Se conseguir, o equipamento poderá ser utilizado em competições futuras organizadas pelo professor e coordenador do curso Thiago Souza.
O Hackathon mencionado pelo monitor, por exemplo, foi uma maratona de programação em que os alunos utilizaram esse equipamento. Em 2022, durante a Semana de Tecnologia e Inovação, graduandos de SI passaram horas se dedicando à construção de nano satélites para serem lançados no estacionamento do Unilasalle. Com essa meta, eles precisaram fazer cálculos, estudar as melhores soluções tecnológicas para as missões propostas, projetar, garantir a comunicação entre as criações e o drone, construir paraquedas, testar a aterrissagem.
A cada nova oportunidade de colocar a mão na massa, se dá o aprimoramento, como reforça o medalhista olímpico Clínio de Freitas: “Eles não têm tanto conhecimento do assunto, não entendem de barco, de navegação, mas todos se esforçaram muito, com boas ideias, as execuções mais variadas. Depois de hoje, se fizerem isso novamente vai sair muito melhor”. No dia 29 de junho de 2023 os graduandos voltaram para casa com essa lição, com novas vivências e com fotos ao lado de quem cruzou mares em prol de um sonho.
Lars Grael e Clínio de Freitas em Seul, 1988 / Reprodução Twitter Seu Esporte BR
Por Luiza Gould (texto e fotos) / Colaborou: Maria Eduarda Barros
Ascom Unilasalle-RJ
