Menu

Unilasalle-RJ conquistou a nota máxima na seleção para participar do Projeto Rondon - Operação Tocantins

Quando Roberto Primo viu o número de inscrição no topo da lista, não acreditou, precisou conferir de novo. 135638. 135638. 135638. 135638. 135638. Depois da quinta vez, a ficha caiu: estávamos mais um ano no Projeto Rondon, e ainda sendo a única Instituição de Ensino Superior no país a tirar a nota máxima, 100, na Operação Tocantins, a empreitada de 2017 do programa do Ministério da Defesa. Participaram da seleção universidades públicas e privadas dos quatro cantos do Brasil. Todas almejando que seus alunos vivam a experiência do voluntariado a partir da proposta de soluções para o desenvolvimento sustentável e o bem-estar de comunidades carentes. Serão 16 municípios atendidos, 320 universitários e 32 instituições. O projeto do Unilasalle-RJ tem autoria de Primo e Suenne Righetti, docentes do curso de Engenharia de Produção e também coordenadores dos lassalistas a cada viagem.

A notícia veio com ares de renascimento para a dupla. Em julho de 2015, os professores criaram um curso de extensão cuja finalidade era costurar, junto dos discentes, uma proposta para participar da Operação Forte dos Reis Magos, Rio Grande do Norte. Trinta graduandos se interessaram, o documento vingou, mas com uma nota baixa para ser aprovado: 68. “Ficamos abalados, foi uma frustração grande para os alunos. Decidimos que só nós dois escreveríamos para a Operação Tocantins, lendo o edital vírgula a vírgula, horas por dia”, lembra Suenne. Apesar de terem a convicção de que, desta vez, seria muito difícil não passar, a nota máxima surpreendeu, levando Primo, até na entrevista, a ficar com os olhos cheios d’água. “Gostamos tanto de fazer isso, que é que nem ficar sem beber água”, explica.  


O amor é tanto que Roberto Primo tem tatuado na perna o mapa do Brasil circundado por estrelas. Cada estrela representa uma participação no Rondon

E olha que não é pouco trabalho. O Projeto Rondon é dividido em três conjuntos. O “A” é voltado para as áreas de Cultura, Direitos Humanos, além de Justiça, Educação e Saúde. O “B”, no qual o Unilasalle-RJ está incluído, trata da Comunicação, Tecnologia e Produção, Meio Ambiente e Trabalho. Já o “C”, tem enfoque na Comunicação Social. As instituições selecionadas para cada um desses grupos devem propor oficinas, ministradas pelos alunos, para serem ofertadas aos habitantes das comunidades. No primeiro semestre de 2017, o Unilasalle-RJ vai com 32 oficinas, “todas baseadas em diagnóstico da cidade”. Primo esclarece: “Nós descobrimos, por exemplo, por meio de um relatório do Tribunal de Contas do Estado, que o município sofria de falta de liderança, investimos nisso, em empreendedorismo, negócios. Tocantins é conhecido como o estado das águas, porém, já sofre com a seca. Temos aqui algumas ações de coleta de água de chuva, sanitário seco. São coisas que o aluno não aprende na universidade”.  

Por este motivo, os graduandos precisam estudar com meses de antecedência o tema de sua oficina e, antes de apresentá-la para valer, mostram o que sabem aos professores. Milena Pereira, de 29 anos, está neste caminho. Cursando o 4º período de Administração, ela escolheu fornecer quatro workshops relacionados à gestão pública. Essa foi uma necessidade pontuada pela prefeitura de Monte do Carmo a Primo, durante a visita do professor em outubro para estudar in loco a implantação das oficinas. O município ficou sob responsabilidade dos rondonistas do Unilasalle (Conjunto B) e da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (Conjunta A).


“Com o Projeto Rondon, sinto que vou mergulhar em realidades. Infelizmente acontece muito de você chegar em algum lugar, e achar que tem algo a mais do que os outros. Acaba desrespeitando aquele ambiente. Quando você está dentro, é outra história, vai entender o contexto com o olhar daqueles moradores para ajudá-los de forma mais efetiva”, diz a discente, sem esquecer os princípios da sua profissão, “Vemos isso em sala, não adianta colocar em prática uma empresa aqui e querer que ela funcione da mesma forma em São Paulo. Vai ser um desafio porque estamos indo com um conhecimento, mas lá teremos que nos adaptar a eles e não o contrário”.

Suenne reforça a fala da aluna. Ela participa do Projeto Rondon pela terceira vez e é categórica ao afirmar que os graduandos retornam diferentes para a metrópole. “Eles se tornam mais humanos, voltam mais preocupados com os amigos, dando conselhos para quem chega atrasado ou falta com frequência, o que vai de encontro com esta visão lassalista, de cuidar do próximo. Isso transforma um profissional, serão melhores engenheiros, administradores, programadores”, opina. Outro ponto positivo é o estímulo do trabalho em equipe. “Já nesta etapa da pesquisa, um ajuda muito o outro, opina, acrescenta”, diz Rodrigo Mendes, de 27 anos, no 5º período de Engenharia de Produção.     

LEMBRANÇAS DE RONDONISTA

No dia da entrevista, os futuros rondonistas estavam no segundo encontro de discussão das oficinas. Apesar de serem de variados cursos, todos na nova sala do Núcleo de Tecnologia e Inovação (NUTI) pareciam amigos de longa data. “Dormimos em colchonetes nas escolas. Na segunda semana, fico preocupada, pois já começam a sentir falta de casa. Certa vez fiquei observando eles rolando no chão, rindo. Nós estávamos cansados, acordando todo dia 5h30, às vezes indo dormir 3h, mas eram só alegria. Muitos pensam que felicidade é trabalhar em uma boa empresa, ter o carro do ano, morar na Vieira Souto. Talvez mesmo tendo tudo, você não vai estar se sentindo tão leve, tão pleno”. A lembrança vivida com “as crianças do Unilasalle-RJ”, como se refere carinhosamente, é uma das mais marcantes para Suenne Righetti, que cita ainda os laços criados com os moradores durante o período de 15 dias.

A professora busca inspiração diariamente na imagem de José Benardino da Silva, o Seu Preto. O pequeno agricultor mora em três hectares de terra cedidos pelo dono para ele trabalhar, em Atílio Vivacqua, Espírito Santo. Os lassalistas o ajudaram a construir no terreno uma fossa ecológica, realizando o sonho do saneamento básico. Para cumprir a tarefa, no entanto, foi preciso quebrar placas de granito, transformando-as em cascalho.

“Ficávamos no sol quente com a marreta, passamos muito tempo juntos, sempre surgindo política nas nossas conversas. Você olha para uma pessoa analfabeta e, de repente, se depara com um discurso perfeito, um senhor informado, participativo na reunião dos moradores, disposto a compartilhar o que não tem”, recorda Suenne, “Ele tinha comentado da falta de mel ultimamente na cidade, mas quando fomos embora, trouxe um litro, me deu de presente, olhou no meu olho e falou: ‘Por favor, não esquece de mim não’”.

Ela não esqueceu, Seu Preto. As palavras “o que aprendi junto de vocês vai mudar muito a minha vida”, ditas em vídeo, também ainda estão frescas na memória. Assim como ainda repercute na mente de Roberto Primo, os relatos dos produtores de laranja no Sergipe, próximo do Rio São Francisco. O docente levou para associação local um projeto de cooperativa, que estimulasse outras fontes de recurso a partir do insumo. “A oficina plantou neles a semente de ao invés da venda apenas da laranja colhida do pé, os trabalhadores investissem na produção do suco concentrado, para uma melhor remuneração. O retorno que recebi foi: ‘Professor, depois do Bolsa Família a gente conseguiu comer. Agora gostamos disso e queremos tudo. Pode trazer a oficina que for'”.

Engana-se, no entanto, quem espera só encontrar dificuldades pelos interiores do país. Em outra passagem marcante, Primo revela ter encontrado com um índio em Roraima e ser questionado se no Rio todos andavam abaixados por conta de bala perdida. “Essa imagem serve para o outro lado. Sem noção do que vai encontrar, quem participa pela primeira vez pode achar que está indo para um município pobrezinho, onde todo mundo é triste. Ao chegar lá vê que não é nada disso, como o índio também fez conosco”, compara Primo reiterando, desta forma, o depoimento da aluna Milena Pereira sobre as histórias “vistas de dentro”.

E novas estão por vir. Os lassalistas embarcam no dia 19 de janeiro, com retorno previsto para 5 de fevereiro. Durante dois dias, todos os 320 universitários se juntam em quartel de Palmas para trocar experiências. No domingo pela manhã, os ônibus partem para os municípios. Mesmo antes de começar a “Operação Tocantins”, a equipe de rondonistas do Unilasalle-RJ já pensa também lá na frente. Suenne e Primo enviaram proposta para o Projeto Rondon de julho de 2017, na edição comemorativa de 50 anos, em Rondônia. O resultado sai em dezembro e o que não falta é torcida para mais um 100.

Por Luiza Gould

Ascom Unilasalle-RJ

*O conteúdo que você leu foi atualizado em janeiro de 2021. As fotos que o ilustram são da Operação Tocantins, realizada pouco depois da publicação desta matéria

Entre em Contato