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União para enfrentar desafios marca a sétima participação do Unilasalle-RJ no Projeto Rondon

“Se não tivesse acontecido não seria Rondon”. A frase é dita na reunião de encerramento, quando os docentes Suenne Righetti e Roberto Primo fazem um balanço do que foi vivido em duas semanas. As palavras revelam a maturidade do time de lassalistas reunido para a Operação Vale do Acre, do Projeto Rondon. Os oito graduandos não se deixaram abalar pelas dificuldades surgidas em Plácido de Castro, provando que o preparo prévio e a união podem fazer uma diferença e tanto quando mais é necessário. Em sua sétima participação no projeto do Ministério da Defesa, o Unilasalle-RJ deixou legados aos acreanos na expedição realizada entre os dias 5 e 21 de julho.


A visita ao Museu da Bocharra em Rio Branco ainda na sexta-feira representou o primeiro contato dos estudantes com o estado. Lá eles puderam conhecer um pouco mais sobre os seringais e o papel da atividade de extração do látex durante a Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de “entender como funciona o nosso país, como o Brasil é grande em território e história”, na síntese de Suenne. No domingo, dia 7, os lassalistas desembarcaram em seu destino, o município de Plácido de Castro, localizado a 100 quilômetros da capital. Logo à chegada, veio a notícia: não havia lugar para os rondonistas ficarem. Entre as opções oferecidas pela prefeitura estavam espaços distantes, um deles a 4 quilômetros da cidade, o que dificultaria o desenvolvimento das atividades. “Acabamos alojados na Secretaria de Agricultura, que possui salas e alguns banheiros, só que nada estava preparado para nos receber”, lembra Roberto Primo. Com alguns espaços internos abandonados, a primeira cena causou impacto nos alunos, como explica Suenne:

“Eles esperavam uma recepção, mínima que fosse, porque os já veteranos, que participaram de outras edições do Rondon, falavam disso. No passado, chegamos com carreata de cem carros nos esperando, com festa típica da cidade. Dessa vez foi diferente, não havia nada disso e eles mesmos precisaram limpar tudo. Depois que arrumamos um auditório, acabamos encontrando outras salas, mais para trás, que seriam melhores, por não serem usadas pelos funcionários da secretaria. Não atrapalharíamos o cotidiano deles nem eles o nosso. Então fizemos duas vezes a faxina. Em determinado momento, encontrei uma aluna chorando. Perguntei o que estava acontecendo e ela me falou: ‘Eu não me incomodo com o trabalho. Só estou chateada porque tem dez meses que planejamos tudo, eu esperava um sorriso’”.

O desabafo veio de Eduarda Sobrado, do curso de Engenharia de Produção e foi acolhido por Suenne como um conflito que a professora conhece bem. “Nós duas queremos organizar tudo para que saia do jeito planejado. Eu também sou assim. Mas o que o Rondon nos mostra é que embora possamos planejar, nada será do que jeito que queremos e não tem problema nisso, porque vai acabar tudo bem. Eles aprenderam ali que na vida não há apenas o príncipe encantado, sempre há o sapo envolvido, mas podemos achá-lo lindo e amá-lo. Foi o que fizeram”, completa. A frustração durou pouco tempo. Na mesma noite, depois da longa viagem, mesmo ainda sem comer e exaustos pelo esforço, os lassalistas compreenderam que o inesperado os fortalecia e sorriram uns para os outros.


Outra importante lição que trazem na bagagem é a empatia. Funcionários municipais instalaram quatro chuveiros na secretaria para fornecer maior conforto. Um deles foi trazido pelo secretário de Agricultura da sua própria casa. A boa vontade virou mágoa quando ele ouviu reclamação de um rondonista não lassalista sobre a precariedade dos banhos, mesmo após este esforço coletivo. “São comentários que precisamos pensar muito antes de fazer. O chuveiro pode ser ruim lá porque nós estamos acostumados com o nosso, de água quente, morna, fria, mas essa não é a realidade deles. Imaginamos uma prefeitura tendo o referencial de nossa cidade, onde o poder público é rico perto do interior do Acre. A prefeitura de lá é pobre, não tem recurso. Mesmo assim nos deram tudo o que podiam. Nossos alunos tiveram essa percepção”, atesta Suenne. O foco passou a ser dar o mínimo trabalho possível. Ao invés do restaurante, por exemplo, os lassalistas passaram a almoçar na escola local, desonerando, assim, os gastos municipais. 


SOS Quelônios e o resgate das tartarugas

As oficinas preparadas pelos lassalistas tiveram início na terça-feira, 9 de julho. Em escola do distrito vizinho, a cerca de 80 quilômetros de Plácido de Castro, os graduandos deram aula de realidade virtual, empreendedorismo, atendimento de qualidade, gastronomia, customização de roupas e produção de cosméticos sustentáveis, essa última aprendida no Unilasalle-RJ com a ativista Carol Cronemberg. Mas a maior contribuição deixada no Acre, na opinião dos professores, é aquela dada a ONG SOS Quelônios, pioneira no Acre em proteger as espécies tracajá e iaçá de quelônios (ordem que abrange tartarugas, cágados e jabutis). Desde 2000 a ONG acompanha as desovas, levando os recém-nascidos para fortalecimento em cativeiro antes de conhecerem seu habitat, o Rio Abunã. Calcula-se que de cada mil tartarugas uma chegue a idade adulta. Atualmente levada adiante por Roberto Kerdy, a ONG enfrenta inimigos muito mais perigosos do que os predadores naturais dos quelônios: os traficantes de animais. O rio fica na fronteira entre Brasil e Bolívia. Em agosto, mês de desova, traficantes dos dois países levam mães e ovos.


“Na cerimônia de abertura, no sábado, encontramos um general que conhecíamos de Rondônia, da Operação Cinquentenário, que coordena a Amazônia. Perguntei para ele o que tinha de maior demanda no Acre, o que dava mais trabalho. Ele respondeu: tráfico de armamento, drogas e animais”, relata Primo, “Quando soubemos da situação que a ONG estava vivendo, imediatamente lembramos desta conversa e Suenne teve a ideia de pedir ajuda a ele”.

Suenne Righetti e Roberto Primo posam para foto junto de funcionários da prefeitura de Plácido de Castro. O prefeito, Gedeon Sousa Barros, segura os ofícios solicitando fiscalização 

O apoio é crucial. Primo e Suenne se depararam com um gráfico feito à mão na ONG apontando que em anos de fiscalização na fronteira, como 2008 e 2009, o SOS Quelônios conseguiu devolver à natureza quase 30 mil filhotes. Já nos últimos tempos, sem acompanhamento das autoridades na época da desova, o número chega no máximo a 3 mil. Para 2019 a previsão era devolver apenas 2 mil quelônios da espécie tracajá. O insight da docente do Unilasalle-RJ mudou as perspectivas. A partir do aval do comandante da Operação Vale do Acre, José Antônio, a dupla conseguiu autorização para redação de dois ofícios: um entregue em mãos ao governador e outro endereçado ao secretário de Estado. E os alunos tiveram crucial contribuição neste processo. Se no primeiro dia Eduarda sentia o peso da frustração, perto da despedida ganharia um presente. Foi na sua oficina, a de Redação do Manual da Prefeitura, que os funcionários municipais redigiram o ofício solicitando a fiscalização. Neste momento, o Exército atua na Região do rio Abunã, evitando o tráfico e impedindo a perda da desova. E, assim, mais um grupo de rondonistas deixou seus frutos pelo país. No Acre, os desafios não falaram mais alto. 

Confira os depoimentos dos rondonistas

Por Luiza Gould

Ascom Unilasalle-RJ

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