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Conheça as histórias de três vidas negras graduadas pelo Unilasalle-RJ, os filhos de Jailson, Amarilda e Eva

Quando o auditório se calou, logo depois da composição da mesa diretora, a voz de Jailson ecoou pelo Centro de Convenções Irmão Amadeu. Da plateia, ele bradou para que Jhonatan, sentado entre os formandos no palco, pudesse ouvi-lo: “Parabéns meu filho. Que Deus te abençoe!”. Amarilda fechou os olhos ao escutar o pedido para que voltasse no tempo e chorou ao se ver anos atrás, com uma pequena Yasmin junto de si. Eva sentou-se na primeira fileira de cadeiras de um espaço muito familiar. Em seus braços, ora estava um buquê de flores, comprado para a filha Amanda, ora estava a neta, a pequena Ivy. No dia 27 de agosto, Jailson, Amarilda e Eva eram três pais a celebrar o diploma de seus filhos. Jhonatan, Yasmin e Amanda são três vidas negras, fruto dessas ancestralidades, empunhando diplomas do ensino superior no lugar que precisam ocupar.

Jhonatan Anjos, nascido na Vila Ipiranga, agora ocupa o lugar do pedagogo licenciado que quer fazer a educação de qualidade ser constante na vida das crianças de sua comunidade, a mais populosa de Niterói. “Vivenciar no dia a dia a desigualdade, a injustiça, o preconceito, a violência faz com que tenhamos que dar passos mais largos e com mais dificuldades, mas os meus pais foram sempre inspirações e, ao mesmo tempo, pessoas muito determinadas na minha criação, me mostrando que podíamos ir além apesar das vulnerabilidades do território”, conta Jhonatan, o primeiro a se graduar em sua família. Uma família grande. Sua mãe, Adriana, tem oito irmãos. Seu pai Jailson, onze. Inspetor em um colégio por muitos anos, Jailson concluiu o ensino médio com mais de 40 anos. Ele assistia às aulas do pátio, enquanto trabalhava. Sua turma era a única que não trocava de sala para que Jailson pudesse continuar acompanhando o que o professor falava por meio de uma janela sempre aberta.


Jhonatan com sua família; os pais Adriana e Jaílson estão nos dois extremos da foto

Ele teve uma oportunidade e a abraçou, assim como filho. “Temos a missão e a responsabilidade de sermos agentes de transformação social, o que passa pela oportunidade. Eu tive a minha por meio da Associação Beneficente da Sagrada Família. Ali conheci a educação, me aproximei das pautas sociais e me engajei na luta pelo direito das pessoas, em especial das crianças e dos adolescentes”, relata Jhonatan. O menino que aos 13 anos fundou a Banda Musical da Sagrada Família (BASMUF), projeto contemplado este ano com o Prêmio Renatinho de Direitos Humanos, leva do Unilasalle “o acolhimento, o aprendizado e a certeza de que somos missionários para promover a justiça social, agora como professor formado”. Ele optou pelo curso EAD semipresencial para que pudesse conciliar a formação com as atribuições enquanto vereador eleito da cidade de Niterói, sem perder o contato com a sua turma.


Jhonatan posa para foto irreverente junto às amigas de curso

No caso de Yasmin Areais Maudonet, a maior parte das aulas do curso de Administração precisaram ser vividas fisicamente longe dos colegas de classe, por conta da pandemia de Covid-19. Egressa de Ciências Contábeis, ela optou por investir na segunda graduação em metade do tempo, mas não imaginou que só estudaria no campus novamente em seu último semestre. A colação, no entanto, pôde ser celebrada com direito à beca, capelo, canudo, cerimônia solene e Centro de Convenções repleto de convidados. Entre eles, uma família pronta a fazer festa para Yasmin. “Eles estão sempre do meu lado, sempre me apoiando em qualquer coisa que eu invento de começar, é muito importante ter esse suporte, esse acolhimento, me sinto pronta para abraçar os desafios que vierem”, atesta. A irmã, Thays, foi quem organizou a surpresa. Quando o nome de Yasmin foi anunciado, os Maudonet se levantaram, lançaram uma chuva de papel de prata e abriram uma faixa de “Parabéns”.

Na colação, houve o momento de gritar o nome da irmã formada (com o melhor Coeficiente de Rendimento do seu curso), mas também o momento de silenciar. No início da solenidade, diante da fala de Lívia Ribeiro, coordenadora do Setor de Ação Comunitária, Thays e Amarilda não precisaram proferir uma palavra; tudo estava dito ali: a mãe fecha os olhos e derrama lágrimas enquanto a filha, ao lado, pega em sua mão. A cena foi vivida após o seguinte convite ter sido feito: “Se lembrem das lancheiras maiores do que eles, das aventuras da infância, do telefone que tocou do nada para salvar a criança que bateu a cabeça em algum lugar, da alegria e do choro que mostraram para vocês a incerteza do ensino médio e dos primeiros dias da graduação. A mesma alegria e choro vocês vivem hoje“. Amarilda regressou ao passado. “Eu lembrei da nossa primeira despedida, o primeiro dia de deixá-la na escola e, de repente, chegar até hoje, vendo essa conquista. Não é a primeira graduação, mas vou chorar sempre”, assegura.


Mãe e filha seguram o segundo o canudo que Yasmin recebeu do Unilasalle-RJ

Além de estimular a imersão dos pais em suas próprias memórias, Lívia os fez se verem enquanto agentes fundamentais na conquista vivida naquela manhã de sábado, dirigindo-se assim aos seus filhos: “Chamo-os à gratidão a Deus, a essa força poderosa que nos lembra que se hoje vocês são heróis é porque antes outras pessoas os precederam. Essa conquista que hoje vocês celebram só é possível porque eles antes também conquistaram. Vocês são porque eles foram”. Não haveria frase mais propícia para contar a história de Eva e Amanda Rosa. Eva teve uma breve passagem pelo Unilasalle-RJ como funcionária no ano de 2008. Em 2015, a carteira voltou a ser assinada pela instituição, e desde então ela trabalha no setor de Serviços Gerais. Oferecer à filha a oportunidade do ensino superior foi uma de suas motivações, já que colaboradores e seus filhos possuem bolsa para estudar gratuitamente. “Não voltei só por causa dela, mas porque a necessidade obrigava e queria estar entre os meus amigos, mas entre uma luta e outra, poder ter alcançado esse objetivo de vê-la formada faz com que eu me sinta muito grata. Hoje eu vejo o quanto valeu a pena e sinto um prazer muito grande por termos construído aqui uma família”, relata. Eva, que já arrumou o Centro de Convenções diversas vezes para outras Colações de Grau, no dia 27 deixou o uniforme de lado, colocou vestido, meia calça, sapato alto e foi convidada. A convidada da mais nova internacionalista que o mercado de trabalho ganha.

“A minha mãe foi e sempre será a minha maior incentivadora, desde criança ela estava na primeira fila torcendo por mim. Eu já tinha esse sonho, cheguei a prestar vestibular para a universidade pública, procurar em outros lugares, mas por conta dos horários era difícil, eu só podia estudar a noite. A La Salle me abraçou em 2016, me acolheu, me ensinou muito de base acadêmica e para a vida”, constata Amanda. No meio do curso de Relações Internacionais, ela se tornou mãe da menina Ivy, e novamente teve na matriarca o pilar necessário para seguir adiante: “Se não fosse a minha mãe nessa trajetória, para me ajudar, até mesmo aqui na faculdade, trazer a minha filha para eu dar de mamar, eu não conseguiria. Eu concluí e estou aqui hoje para dar esse exemplo para a minha filha”.


Amanda e os pais na sua Colação de Grau e também cercada por sua família

Foi o que Jailson fez também por Jhonatan. Estudando do pátio, ele ensinou ao filho a importânciar de insistir e resistir. “Sou muito grato a Deus e à minha esposa pela criação que demos a ele com muita dificuldade. Ele precisou desistir algumas vezes da faculdade, mas sempre com uma certeza: ‘Um dia eu vou prosseguir, um dia eu vou adiante’”. Jhonatan, Yasmin e Amanda foram adiante e hoje são três dos 132 alunos graduados em 2022.2 pelo Centro Universitário La Salle do Rio de Janeiro. O canudo que carregam é também de Jailson, Amarilda e Eva.

Por Luiza Gould
Ascom Unilasalle-RJ

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