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Em “A arte de ser feliz”, a escritora Cecília Meireles (1901-1964) pinta com as palavras para falar do tempo no qual sua janela se abria “sobre uma cidade que parecia ser feita de giz”. Havia ali logo ao lado “um pequeno jardim, quase seco”, em época de estiagem, “de terra esfarelada, e o jardim parecia morto”. “Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde, e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas. Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse. E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz. Às vezes, abro a janela e encontro o jasmineiro em flor”. O texto nos lembra que basta uma semente, água e alguma terra, mesmo que muitos não deem nada por ela, para a vida nascer. Basta ter alguém que acredite, como o 3º período da Escola La Salle Rio de Janeiro.

No dia 28 de outubro, eles plantaram vida em ação unindo o curso de Relações Internacionais do Unilasalle-RJ e o movimento Slow Food de Niterói. Com a presença da chef Mariana do Valle, as crianças criaram, junto dos graduandos, hortas verticais, em garrafas pet, para levarem para casa, e uma horizontal, que agora irá fornecer alimentos à escola. Os idealizadores dos tons de verde que, em breve, tomarão conta do espaço, chegaram cedo à escola naquela sexta, dando os últimos retoques em um trabalho com muita preparação prévia.

A proposta surgiu no início do semestre, na disciplina de Pesquisa e Prática Supervisionada II, ministrada pela professora Fernanda Nanci. “Propus que fizéssemos um projeto na área de Meio Ambiente e Sustentabilidade, para conseguir casar com a matéria Meio Ambiente e Relações Internacionais, que eles têm no 8º período com o Guilherme Dias. A Livia Ribeiro (Coordenadora do Setor de Ação Comunitária) lembrou da necessidade de uma horta aqui e assim começamos”, explica a docente. Parte da turma optou por uma atividade na La Salle RJ, a segunda casa para muitos dos graduandos. Depois de aprenderem em casa sobre gestão, cronograma e planejamento, foi a vez de colocar a mão na terra, literalmente, como prova Carolina Lopes.

A aluna de 23 anos foi a coordenadora da empreitada. Pelas crianças ela conta ter até fugido de vacas em busca de adubo: “Num primeiro momento queríamos fazer a horta só de pet, mas pesquisamos e vimos que a pet não ia durar tanto quanto se conseguíssemos um espaço maior. Começamos a correr atrás, pegamos as madeiras que sobraram da construção do Centro Tecnológico Unilasalle-RJ e demos uma utilidade para elas. Conseguimos um marceneiro. E a terra? Gastamos cerca de dez sacos, pegando a casa de conhecidos, indo buscar em fazenda, com o pé na lama, desviando das vacas”.   

Todo o esforço valeu a pena. Durante a atividade, ela era só sorrisos abraçada às crianças. Os pequenos passaram a manhã descobrindo a natureza de diferentes maneiras. Como primeiro contato, os estudantes os incentivaram a reconhecer temperos usados no dia a dia pelo olfato. Depois foi a hora de plantar a própria hortinha que levariam para casa, passando pelas etapas de abrir o solo, colocar a mudar, cobri-la e regá-la. Dos pets para a composteira. Eles ficaram atentos a cada movimento de Mariana no trato com as michocas. Os chamados “restos” (cascas, talos, raízes) saídos da cozinha, que desde o início do ano eram reaproveitados a partir da criação de doces, por exemplo, agora servirão de adubo para a plantação da escola.  

“É o fechamento do ciclo do alimento”, conclui Mariana, “Vemos o movimento das hortas urbanas, cada vez mais as pessoas querem plantar, às vezes um pedacinho de terra já é suficiente. É fundamental aproximarmos as hortas também das crianças porque ali elas veem o que estão comendo, não têm só contato com a gôndola do supermercado, elas acham que o alimento vem dali. Trazer o orgânico para a escola proporciona um contato diário. Plantamos e eles vão ver o desenvolvimento”.

O Slow Food entrou na vida da chef há oito anos. O movimento prega que o alimento deve ser bom (saboroso), limpo (produzido sem degradar o meio ambiente) e justo (preços que beneficiem tanto o produtor quanto o consumidor). Uma tríade que a turminha do 3º começou a conhecer na última semana ao estimular todos os sentidos com cebolinha, salsinha, alface, alface roxa além das medicinais lavanda, açaimo, hortelã-pimenta e erva-cidreira. A contribuição ao paladar veio em forma de um biscoitinho caseiro sabor manjericão. Fez muito sucesso entre a garotada.    

Diana de Magalhães, 33 anos, viu uma fila se formar diante de si ao chegar com o lanche. Discente do 8º período de RI, ela foi, ao lado de Carol, a guia da turma no projeto. “Cresci no meio do campo, na roça, fazendo horta com os meus pais. Apesar de eu morar na cidade agora, gosto de plantas, de estar perto delas. Foi muito agradável mexer na terra junto com eles, relembrando a infância”, disse, “As ideias iniciais cresceram temos a possibilidade agora não só de plantar pequenas coisas, como temperos, como também cenoura, beterraba, vindo de encontro com a necessidade deles”.  

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