Menu

Por trás da relação do homem com a terra, o barro converge como símbolo da própria constituição humana, já que corpo e matéria prima compartilham os mesmos minerais, na percepção de Amálio Pinheiro, professor da PUC de São Paulo. E assim, as mãos sujas do cobre que as dão vida moldam, criam e deformam para formar, em um processo no qual cada toque gera uma imperfeição na massa em giro revelando figuras. No próximo dia 24, barro e assimetria ganham destaque no Unilasalle-RJ. A Galeria inaugura “Arte sem Barreiras”, convidando o público a conhecer, através do toque e da audiodescrição, as esculturas de Rodrigo Saramago. A abertura da mostra faz parte da programação do Sábado Inclusivo que traz, por sua vez, palestras, oficinas e apresentações (dança/teatro/música) voltadas à temática da integração.

O programa duplo deste fim de semana é inspirado na campanha Setembro Verde, mês da responsabilidade social. “A exposição ‘Água Doce’ segue com foco na importância da preservação das nossas cachoeiras e, agora, ‘Arte sem Barreiras’ promove a vivência das possibilidades de inclusão, das diferentes metodologias. A arte nos iguala”, avalia Angelina Accetta, coordenadora da Galeria de Arte La Salle. Sobre Rodrigo Saramago ela é só elogios. Ano passado o artista expôs seu trabalho na mostra “Transcendência”, mas com uma proposta diferente:

“Daquela vez, o público podia só apreciar. Agora a ideia é justamente a oposta. Vamos colocar parte dos presentes vendados para que as esculturas sejam sentidas pelo tato. Os colegas sem venda terão a missão de descrever o que estarão enxergando e as referências serão em Braille”. As peças de Saramago ajudam neste “sentir”. O “cavar fundo” característico de seu estilo torna as peças “táteis, bem tridimensionais, parecem sair da parede”, como ele próprio reitera.

Ao todo são seis peças de grandes dimensões, divididas entre a temática sacra e a mística, duas partes que explicam um pouco quem é o niteroiense de 49 anos. “Sempre tive formação católica, a Bíblia aberta em cima da mesa. Já as sereias vêm da minha formação em Belas Artes, da mitologia”, distingue Saramago em entrevista ao site do Unilasalle-RJ, “O barro também está presente desde este início, ficou parado por um tempo, me especializei em bronze e ferro, mas voltou de uns dez anos para cá, acho muito acessível, fácil das pessoas lidarem”.  

A predileção entre os santos é pelos guerreiros. As imagens das lutas travadas por São Jorge e São Miguel impressionam na força das expressões, nos detalhes de cada curva. “Gosto deste movimento que posso imprimir”, esclarece o criador falando ter como expectativa ver a reação do público no sentir “dos corpos, dos músculos, do combate”. No fundo, é sempre o que se espera a cada nova inauguração, mesmo passados 25 anos de estrada, todo dia já às 7h de pé no ateliê. “Como diz Picasso ‘Quando a inspiração vier, que ela me pegue trabalhando’”, brinca.  

SÁBADO INCLUSIVO

A abertura está marcada para às 11h30, mas antes já terá rolado mesa redonda e lançamento de livro. Depois do almoço, professores e alunos de períodos avançados compartilham saberes em oficinas. Elas vão da arte terapia à Língua Brasileira de Sinais, esta última uma companheira constante dos alunos que almejam ser professores, como explica Maria de Fátima Pimenta, coordenadora de Pedagogia e uma das organizadoras do Sábado Inclusivo. O dia de eventos funcionará como aula inaugural de seu curso.  

“Em todas as licenciaturas Libras é obrigatório. Como ser um educador sem ser inclusivo? Falar de educação inclusiva é quase uma redundância porque um educador não pode segregar”, diz ela. Fátima faz questão de citar que o Sábado Inclusivo ocorre logo depois do término das Paralimpíadas: “É a culminância de tudo o que estamos vivendo”. 

"Arte sem Barreiras" fica em cartaz até o dia 30 de setembro. 

Entre em Contato