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No Brasil, nunca havia faltado nada. Mas o filho de engenheiro resolveu arriscar, ir para os Estados Unidos e começar tudo do zero. Lavou prato, passou fome, almoçou água e biscoito, já que a renda conjunta com a esposa ia para o aluguel. Manteve o foco, queria trabalhar com infraestrutura de rede. O jovem lendo livro técnico no metrô de Manhattan depois do expediente tinha um objetivo e chegou lá. Hoje, com 35 anos, Thiago Henriques tem bacharelado em Tecnologia da Informação pela Seattle Pacific University (SPU) e tecnólogo em Ciência da Computação pela Hudson County Community College (HCCC). Possui ainda, entre outras, a certificação CISCO e fundou a própria empresa de consultoria, a ImpactIT. Explicar esta história foi o que motivou a aula inaugural do 2º semestre voltada para alunos das Engenharias e de Sistemas de Informação. A palestra do dia 30 de agosto foi exibida em tempo real no canal do Unilasalle-RJ no Youtube.

Henriques abordou em dois horários, às 9h30 e 20h30, como é o mercado de TI nos EUA, falou de processo seletivo, deu dicas de como se preparar, o que não fazer, como é possível melhorar o que já existe com o seu trabalho e ainda sobrou tempo para comentar mercado de redes atual e futuro. A frase “You don’t get paid for the hour. You get paid for the value you bring to the hour”, foi uma das primeiras apresentadas pelo convidado para mostrar a tônica norte-americana. “Você não ganha por hora, mas pelo valor que agrega. Nas primeiras entrevistas isso já fica claro. Três pessoas estão com você na sala. ‘Sabe física? Ok.’, diz uma delas e te passa a caneta para você comprovar em um quadro o que de fato sabe sobre física. Como você resolve os problemas e onde você que estar daqui a cinco minutos é o que verdadeiramente importa”, explicou.  

Para agregar este valor, Henriques citou a importância de duas palavrinhas mágicas: estudo e homelab. “É muito fácil chegar em casa, sentar no sofá e ver televisão. O difícil é falar para a minha esposa e para os meus dois filhos que eu vou estudar. Mas é preciso”, frisou, “No meu caso, para estudar eu precisava entender o que estava fazendo, testar.  Às vezes não é possível ter uma estrutura dentro de casa, mas dá para começar a trabalhar com desktop, laptop, qualquer tipo de computador”.

A experiência de cinco anos no Instituto de Engenheiros Eletricistas e Eletrônicos, o IEEE (leia-se I-3-E) rendeu a Thiago Henriques outra lição que o CEO guarda até hoje: se dedicar em se local de trabalho acaba por melhorá-lo. Na empresa considerada a maior do mundo dedicada ao avanço da tecnologia, ele detectou um problema. Durante um processo chamado de convergência eram gastos em torno de 40 segundos. Os dez bancos de dados do local, no entanto, tinham uma tolerância de 15 segundos. A assimetria entre estes tempos fazia com que milhões de usuários da IEEE no mundo ficassem sem ter acesso a ela, o que acarretava perda de recursos. O que fazer?

Henriques conseguiu a resposta: “Percebi a falha, peguei uma cadeira, coloquei quatro suítes e simulei aquela realidade em menor escala. Consegui reduzir o tempo de convergência para 900 milissegundos e nunca mais passamos por isso. A solução não é criada da noite para o dia. Da primeira vez, erramos, da segunda também, da terceira já acertamos 25%, depois 50% e assim por diante. Não existe progresso sem erro, não se pode ter medo dele”.

Para um colega de Henriques dos tempos de Unilasalle-RJ, onde cursou um semestre, ou da Estácio, saber que ele solucionou uma falha na IEEE poderia ser surpreendente. O próprio palestrante brincou com este fato na última terça-feira, recordando ter sido reprovado quatro vezes na disciplina de Programação da professora Maria Inês, atual coordenadora do curso de Engenharia de Produção. No momento reservado às perguntas, em que foi questionado sobre como era sua vida no Brasil, o CEO da ImpactIT confessou uma imaturidade naquela época, muito por conta de “sempre ter tido tudo”. Veja algumas outras dúvidas levantadas pela plateia de discentes:

Como se dá o ingresso em uma faculdade americana?

No meu caso, eu fui na Seattle Pacific University, fiz prova de Inglês e Matemática. Quando fui admitido, precisei ter um sponsor, seria um responsável financeiro por você, já que o visto de estudante não te permite trabalhar nos EUA. Uma vez comprovada a renda, a faculdade começa o processo para tirar o seu visto. É crucial você não ficar ilegal em nenhum momento porque isso prejudica mais na frente. Outras formas de se legalizar são: permissão de trabalho, visto de trabalho ou greencard.   

 

Como surgiu o “click” que o fez querer ir para os EUA?

Quando eu tinha 15, 16 anos, ficava vendo vagas lá fora pelo Yahoo Jobs, mas achava que era impraticável. Até que fui fazer intercâmbio para trabalhar em um Cassino em Nevada. Já que estava lá e tinha o sonho de trabalhar com tecnologia veio o entendimento: ‘Já que estou aqui agora, tenho que fazer o que tem que ser feito’. Fui entender o processo seletivo para faculdade de lá, aprendi a traçar metas.

Qual a diferença em termos de ensino, comparando as universidades brasileiras com as americanas?

Fiz uma matéria chamada de Matemática Discreta, não me lembro a diferença dela para Cálculo aqui. Agora, em relação à Programação, eu lembro que quando fazia na Estácio com a Inês era teoria no quadro. Nos Estados Unidos a disciplina era com o computador. Eu tinha uma dificuldade de absorção da teoria, mas lá aprendíamos na prática, o que me ajudou.

 

Vendo de fora, como está o mercado de TI hoje no Brasil?

Atrasado. Eu trabalho muito com a CISCO, que no Brasil é muito caro. As pessoas aqui precisam buscar alternativas para achar resultados similares do mesmo calibre. As tecnologias não são as mesmas, o que faz, muitas vezes, a performance diminuir. Lá tem muita a cultura de todos juntos buscarem um crescimento, o lucro de conhecimento é mútuo, o que gera um efeito direto no mercado. Além disso, as pessoas têm que entender que não tem por que fugir do inglês, se as tecnologias são na maioria esmagadora em inglês é preciso estudá-lo.

Qual a receptividade dos americanos para os cérebros brasileiros?

Americano quer povo que trabalha. Lá se você quer trabalhar e é dedicado, é só ir. Quem domina, por exemplo, o desenvolvimento de software nos EUA são os indianos. Por que não os brasileiros? Porque são 100 mil indianos para esta área e talvez, cinco brasileiros. A questão é buscar e se dedicar.  

 

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