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Nas ruas de Madri, capital onde atuou com fotografia durante oito anos, Luiz Bhering expôs e vendeu seus trabalhos em bares, as mesmas instalações retratadas pelo cineasta Pedro Almodóvar, os mesmos cenários por onde passou Javier Bardem. Na noite espanhola, tão cara à cultura daquele país, se delineava os traços do street photographer, uma alcunha recebida pelos amigos do meio e reproduzida por Bhering. Formado pela City Polytechnic de Londres, atual London Guildhall University, ele está de volta ao Brasil e sua cidade natal, Niterói, para contar histórias a partir da escrita com a luz. A Galeria La Salle recebe nos meses de junho e julho 40 imagens do fotógrafo, todas contendo sua marca característica: a manipulação de detalhes, realçando determinadas mensagens a serem transmitidas ao público.      

Angelina Accetta, coordenadora do Núcleo de Arte e Cultura, usa o termo “gramática visual” para classificar os clicks de Luiz Bhering, concepção que explica a indicação do nome “Poesia Visual” para a mostra. “Ele chama o espectador a entrar naquela moldura a partir de um olhar próprio, que realça alguns aspectos. Na poesia, vemos o mesmo, o poeta brinca com as palavras, dá ênfase, cria melodias. Ao mergulhar nas fotos, o espectador vai além da montanha, do céu, das paisagens características do Rio, pois é chamado a uma convocação multissensorial. Dá vontade de tatear, de sentir os aromas que a obra exala”, filosofa a anfitriã.

 

O fotógrafo revela ter dois tipos de atuação depois de capturar um instante no tempo: ora manipula o registro digital, mexendo em luminosidade, contraste, cor, ora realiza montagens, mesclando variados contextos. “Tento trabalhar a imagem enquanto leitura, quero que ela diga algo, que as pessoas entendam o que eu sinto ou que possam estar livres para uma interpretação própria”, explica Bhering. No que concerne à montagem, ele justifica o uso enquanto meio para problematizar o conceito do real. “Por sermos educados culturalmente para materializar uma ideia de realidade, muitas vezes, nos limitamos, uma vez que nada é fixo”, argumenta. Prova da afirmação, é o fato de Bhering brincar com a ilusão. Fotos tratadas por ele já foram aceitas como reais, enquanto em outras, nas quais não houve nenhum processo de edição, questionamentos sobre o uso de programas foram feitos.

O Photoshop, no entanto, nunca foi um tabu: “Ao contrário de muitos fotógrafos profissionais, que não admitem cortes no negativo, eu acho que podemos fazer o que queremos com a imagem. A manipulação de fotos sempre existiu, desde o analógico, de onde vem minha formação. As técnicas que já eram empregadas em laboratórios de revelação apenas foram levadas para o meio digital, novidades só surgiram há cerca de oito anos”.   

 

Para a Galeria La Salle, Luiz Bhering traz três de suas séries. Em “Urbanidades”, o fotógrafo aborda a cidade, com fachadas de prédios e sobreposições de comunidades. Parte deste trabalho está exposto, atualmente, no 5º Salão de Outono da América Latina, em São Paulo. Com “Adeus Infância”, o fotógrafo apresenta seu lado afetivo, já que a série reúne imagens das filhas. Diferentes ângulos refletem sobre amadurecimento, mudança de fases. Por fim, uma terceira linha, ainda sem título, une clicks feitos em Niterói, as vistas que, antes das lentes, eram retratadas por pintores nos idos dos séculos XVIII e XIX. “Vinte e seis anos depois da minha partida, estar na cidade tem sido um reencontro. Esta mostra tem um significado emocional forte para mim”, conclui o profissional de 53 anos.  

EVENTO

Exposição “Poesia Visual”

Inauguração DIA 06/06, TERÇA-FEIRA, ÀS 20H

Permanência

Quando: De 06/06 a 30/07. Segunda a sexta-feira, das 9h às 21h

Onde: Galeria La Salle — Unilasalle-RJ — Rua Gastão Gonçalves, 79, Santa Rosa

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