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Os rostos de Ayrton Senna, Jimi Hendrix e Monalisa ganham uma sobreposição de cores que fazem lembrar a Pop Art e o Realismo Espontâneo. A inspiração para as obras? Nomes como o original pintor Andy Warhol (1927-1987). Já Jorge Amado, Toquinho e Noel Rosa têm os traços de determinadas características acentuados ao ponto do exagero, um indício de se tratar da caricatura, a mesma arte que faz de Jaguar um ícone. E assim, entre técnicas e ídolos diversos, a Galeria La Salle recebe os trabalhos de Carlos Hélio Almeida, o CHA, e André Brown, na mostra “Interfaces”, em cartaz a partir do dia 14 de agosto.

Angelina Accetta, coordenadora do espaço, explica a opção por uma mostra contemplando dois artistas a partir da “poética expressionista” que marca as criações. “Entre o humor do traço e as cores vibrantes, os artistas evidenciam a riqueza da construção simbólica em torno de variadas personalidades”, atesta. No caso de CHA, essa construção vem de maneira muito autodidata. Taxista em atividade, ele pinta após as corridas, tendo quarto de sua casa como ateliê, por enquanto. “Eu sempre desenhei, trabalhei 12 anos como web designer, mas a pintura em si veio no período em que tive que ficar em casa durante três meses, após uma cirurgia para retirada de tumor. Eu precisava ocupar a cabeça. Fui seguindo minha intuição e comecei a estudar por minha conta na internet”, conta.

Através das pesquisas, CHA descobriu o trabalho crítico de Warhol, responsável por telas memoráveis como Elvis Presley e Marylin Monroe quadriplicados, em cujos rostos tons fortes e até fluorescentes prendem a atenção. Uma das figuras mais excêntricas da Pop Art, o americano fez jus à razão de ser do movimento artístico dos anos 1960: ironizar a massificação da cultura popular capitalista. Andy Warhol considerava as celebridades pessoas vazias – foi ele, inclusive, o responsável por criar a expressão 15 minutos de fama –, embora tivesse nas imagens delas motes para suas reproduções em série. Para o artista niteroiense, no entanto, trabalhar com personalidades é uma estratégia comercial. Investindo em famosos, ele aposta em um maior número de vendas.

CHA também bebe da fonte de contemporâneos, dentre eles o austríaco VOKA e a francesa Françoise Nielly, o primeiro expoente do Realismo Espontâneo e a segunda do movimento urbano. “Considero o meu trabalho um Realismo Abstrato. Muitos confundem realismo com perfeição, mas interpreto de outra maneira”, pondera o artista, “Retrato a realidade, portanto as rugas, os relevos, não é uma plástica. Nesse processo, mesclo as cores. Elas são a energia do impulso naquele momento da criação”. A afirmação parece vinda de alguém com tempo de estrada, mas CHA só começou a produzir obras no início do ano, o que o faz confessar surpresa com as oportunidades que estão aparecendo no início da carreira. Primeiro, o convite de deixar os quadros para venda na loja de móveis planejados Todeschini. Depois, o de pintar um Einstein no último fim de semana do mês de julho, no espaço Cotton de Fadas, em São Francisco. E, agora, estar na Galeria La Salle. “Fico um pouco inseguro com as reações, mas ao mesmo tempo animado de mostrar minha arte. Acho que meu trabalho como taxista vai ajudar, lido muito melhor com a timidez, com essa intimidade rápida que precisamos ter no contato com o público”, conclui.

Das cores aos traços de Brown

Se de um lado do caminho cultural as cores atraem o público, do outro serão rostos, narizes e lábios em grandes proporções, a dividir o interesse dos visitantes. André Brown trará 20 de suas caricaturas, dentre elas Machado de Assis, Jorge Amado, João Bosco, Dorival Caymmi e Toquinho. Nomes relevantes no “contexto cultural e social do país, aqueles que nos ajudam ou ajudarão a ter um Brasil melhor”, tão caros diante de crise política, econômica, surto de violência no estado... “Trazer Paulo Freire, por exemplo, é fazer as pessoas se interessarem por ele e descobrirem como é viver uma boa democracia”, explica Brown, “Vejo o meu trabalho como uma possibilidade de incitar nas pessoas a vontade de pesquisar sobre os artistas retratados e apresentá-los para as novas gerações, porque o desenho sempre traz uma narrativa com ele que precisa ser conhecida. Pense em Calixto Cordeiro, o K.Lixto. Ele foi um ilustrador do fim do século XIX e início do XX, responsável por mudar a concepção do carnaval a partir do que publicava na imprensa. Seu foco era a cultura popular, a capoeira, a vida boêmia, do qual fazia parte. Muitos não o conhecem, mas foi de suma importância para a caricatura brasileira”.        

                                                         

O artista ainda aponta no ídolo caminhos semelhantes aos seus, como o amor pela cidade de Niterói, onde K.Lixto nasceu. Apesar de ser carioca, Brown conta que o município do outro lado da Baía foi onde as portas de centros culturais se abriram, no início da carreira, com acesso aos salões oficiais, na década de 1990. No Museu do Ingá, ele chegou a participar de mostra coordenada por Euclides Pereira Duque, reunindo uma turma do desenho que englobava, entre outros, Ziraldo e Chico Caruso.  Foi por essa mesma época que ele passou a publicar quadrinhos e cartuns em jornais da imprensa alternativa, como nas revistas do Grupo Coquetel/Ediouro, Jornal Inverta e Jornal da Cidadania (Ibase). Ali estava em casa, lembrando e muito o menino que se apaixonou pela arte dos traços lendo O Pasquim, voz contestadora fundamental durante o período do regime militar, reunindo Jaguar, Ziraldo, Henfil, só para citar alguns dos responsáveis pelo humor no semanário.

Para quem contabiliza diversas exposições no currículo, “Interfaces” poderia não ser novidade, mas chegar ao espaço cultural do centro universitário era um desejo há algum tempo. Fortemente ligado ao ensino (André Brown é pedagogo e doutor em Educação), o cartunista ajudou a elaborar os Cursos de Férias do Unilasalle-RJ, ministrando aulas de desenho.

“Estava preocupado em fazer dar certo aquela experiência, mas aproveitava para dar uma fugidinha à Galeria de vez em quando. Cultura é um excelente investimento, quando ela vai bem, a educação se fortalece, o contato com o outro é maior, até a acessibilidade se amplia, porque a arte sensibiliza, é a base do conhecimento e da vida humana. A instituição está atenta a isso, apresentando o desenho, a pintura, a arte, a música para estudantes, professores, funcionários e também para quem vem de fora”, finaliza.

EVENTO

Exposição "INTERFACES"

Inauguração DIA 14/08, SEGUNDA-FEIRA, ÀS 18H30

Permanência

Quando: De 14/08 a 01/09. Segunda a sexta-feira, das 9h às 21h

Onde: Galeria La Salle Unilasalle-RJ Rua Gastão Gonçalves, 79, Santa Rosa

 

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