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A história é antiga, lá pelos tempos da colonização europeia. Os primeiros portugueses logo descobriram a árvore com propriedades para tingir tecidos. Depois, viria a pedra brilhante de Minas Gerais. E olha que por enquanto o escopo atingido é apenas o território nacional. Rica em recursos almejados pelos estrangeiros desde as navegações, a América do Sul segue como território de muitas potencialidades, mas pouca estratégia para aproveitar tantas riquezas. Bernardo Salgado Rodrigues, doutorando em Economia Política Internacional pela UFRJ, conhece bem esta realidade e veio apresentá-la na Aula Inaugural de RI, evento voltado para um primeiro contato dos calouros com seu curso. O encontro é fruto de um livro do pesquisador (por sua vez baseado em dissertação), o “Geopolítica dos recursos naturais estratégicos sul-americanos” (2016).     

O bate-papo no Anfiteatro Irmão Hilário começou com a explicação do título e do que, afinal, se tratou a pesquisa. “O que vocês entendem como recurso natural estratégico e qual a diferença em relação aos recursos naturais?”, questionou Rodrigues, completando logo em seguida: “São aqueles chaves para o sistema capitalista e para a manutenção da hegemonia. Meu trabalho foi o de realizar o mapeamento desses recursos naturais na América do Sul, divididos em cinco grupos: recursos energéticos (petróleo e gás), recursos naturais não energéticos (minerais), água, segurança alimentar e biodiversidade”.

Gráficos, tabelas, mais gráficos e muito trabalho em cima de estatísticas foi o que se seguiu à ideia do tema no mestrado, cursado também na UFRJ. De tantos dados, o fio condutor veio a partir do 15, número que indica as principais reservas de minérios não-energéticos da América do Sul, cerca de 20% da reserva mundial. A variedade de recursos passa pelo nióbio, elemento químico presente quase em sua totalidade em solo verde e amarelo. “Temos praticamente o monopólio dele (98%), que por conta do poder de resistência a altas temperaturas, é usado para fabricação de foguetes, por exemplo”, contou o palestrante.

Situação semelhante é a do lítio, o recurso escolhido como estudo de caso na pesquisa. O Li da Tabela Periódica está no bolso de cada leitor desta matéria, mas a grande maioria, não tem a menor consciência disso. Usado para substituir o cadmo na confecção de baterias de celular devido à sua capacidade de armazenamento, o lítio está sendo estudado como opção para baterias de automóveis elétricos e híbridos. Aos futuros internacionalistas, Rodrigues apresentou mapas mostrando a localização das principais reservas do metal. Trinta e quatro por cento pode ser encontrado na Bolívia, apesar da quantia ter tudo para ser maior, já que muita informação a respeito é mantida em sigilo nacional; 31% no Chile, 13% na China e 6% na Argentina.

A partir da certeza de predominância abaixo da linha do Equador, Rodrigues partiu para novo questionamento, mas desta vez, tocando na ferida: “Temos então mais de 60% das reservas, que podem se estender até 90% dependendo do real valor da Bolívia. Ou seja, um recurso do qual temos monopólio, com fronteira tecnológica se abrindo e qual a nossa estratégia?  São três diferentes em relação às políticas públicas realizadas com o lítio, contextos específicos em uma mesma região. Se fosse um projeto de integração regional focado em recursos naturais, poderíamos vir a instalar um preço vantajoso na troca. A oferta de lítio por empresa se concentra em quatro ou cinco. O único país que buscou um controle, uma autonomia estratégica foi a Bolívia, presente neste grupo”.

 

 

Em suma, os recursos estão aqui, mas sem uma política única, eles acabam sendo entregues de mão beijada para duas potências, os Estados Unidos e a China. O vizinho da América, com escassez de lítio e outros minérios em suas terras, acaba conseguindo seu objeto de desejo em um negócio com mais proveito para si do que para os donos da casa. Bernardo Rodrigues centrou nesta problemática sua fala, além de debater outros temas como a “falsa percepção da quebra da Petrobrás”, empresa considerada ainda a maior produtora de petróleo entre as de capital aberto.  

Ao término da explanação, o pesquisador elencou dez pontos para uma geopolítica de recursos naturais estratégicos, que você pode conferir aqui. A noite contou ainda com a premiação das melhores monografias de 2016.2, um semestre concorrido segundo a coordenadora Denise Salles. Ela e a adjunta Fernanda Nanci distribuíram os certificados. 

Camili Figueiredo - 1º LUGAR MELHOR MONOGRAFIA: “Potência média com aspirações de grande potência: uma análise da participação brasileira no Fórum IBAS durante o governo Lula”

 

Wanderson Lanzetti Teixeira - MENÇÃO HONROSA: "Celebridades diplomatas: um estudo da diplomacia das celebridades e seus efeitos nas Relações Internacionais"

 

Veja a lista completa dos ganhadores:

PRÊMIO GUIMARÃES ROSA
Para Camili da Silva Figueiredo, em razão da apresentação da monografia intitulada "Potência Média com aspirações de grande potência: uma análise da participação brasileira no Fórum IBAS durante o governo Lula", considerada a melhor monografia entre os formandos do segundo semestre de 2016.
 
PRÊMIO ARAÚJO CASTRO
Para Nathalia Gabrielle Santos Teixeira, em razão da apresentação da monografia intitulada "Team Estados Unidos ou Team União Soviética? A disputa ideológica dos Estados Unidos na Guerra Fria por meio das histórias em quadrinhos", considerada a monografia mais inovadora entre os formandos do segundo semestre de 2016.
 
MENÇÃO HONROSA
À Beatriz Sampaio Abreu, em razão da qualidade de sua monografia intitulada "Armas letais e lenços florais: a Revolução Social Feminista Protagonizada pelo YPJ", entre os formandos do segundo semestre de 2016.
 
MENÇÃO HONROSA
À Wanderson Lanzetti Teixeira, em razão da qualidade de sua monografia intitulada "Celebridades diplomatas: um estudo da diplomacia das celebridades e seus efeitos nas Relações Internacionais", entre os formandos do segundo semestre de 2016.

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