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“Uma estrada de chão vem serpenteando os morros, passando por pastos e pequenas plantações e cruzando, vez por outra, com algum morador envolvido em suas tarefas. Mais ou menos no meio do caminho é cortada pelo Córrego Alegre, que flui percorrendo uma paisagem talhada entre a calma dos campos e o verde das serras, onde a Cachoeira das Andorinhas sussurra seus segredos às matas”. As palavras de Luciano Rodrigues fazem as fotografias de “Água Doce” ganharem contornos em prosa no trabalho conjunto para descrever 12 cachoeiras do estado do Rio de Janeiro. São elas as responsáveis por preencher a Galeria La Salle com novos ares a partir de 1º de setembro.

Na viagem pelas águas, em cartaz até o dia 30 do mesmo mês, o convite parte do olhar de Ricardo Siqueira, “geólogo de formação e fotógrafo por profissão”, como se descreve. A simbiose o levou a publicar o livro que dá título à mostra. As imagens vão do pequeno detalhe à vastidão da mata ao redor, apresentadas lado a lado do detalhamento de cada queda, com informações como altitude, profundidade, coordenadas e temperatura das cachoeiras.

É preciso voltar no tempo para entender esta história por completo. Sem conseguir emprego na sua área depois de formado, Siqueira viu uma notinha no jornal sobre processo seletivo na Manchete, em 1983. A vaga era para fotojornalista. Foi então que ele lembrou da UFRJ, do laboratório de fotografia abandonado e de seu pedido, ao lado de um amigo, para usá-lo. “Fiquei fascinado por aquelas imagens surgindo do nada na bandeja durante a revelação”, conta o Ricardo Siqueira de hoje, com 55 anos. A câmera não saiu mais das mãos uma vez conquistada a vaga na revista. Depois de três anos veio a estadia na Abril, em seguida o trabalho para a Isto É, de onde saiu rumo à Editora Globo. Ele abdicou do fotojornalismo em 1995, na busca de um trabalho mais autoral, fundando sua própria editora, a Luminatti.

“Fortes e Faróis” foi o nome da primeira obra lançada, no qual registrou o litoral brasileiro. “Água Doce” é o 14º livro. Siqueira levou sete meses para reunir todo o material no ano passado, contemplando as cachoeiras de Andorinhas, Bracuí, Poço do Céu, Chuveirão, Circuito das Águas, Frades, Macumba, Poção da Maromba, Monjolo, Pedra Branca, Primatas e Poço Verde. Escolher uma só entre tantas, no entanto, parece ser tarefa mais difícil do que fazer os cliques. “Cada cachoeira tem uma personalidade, me envolvia com ela. Não queria ir embora, queria ficar mais, absorvendo aquela energia. Ir sem pressa é contagiante”, explica, “Monjolo me surpreendeu. É um bairro popular, cheio de gente, mas pegando uma estradinha tudo vai ficando para trás e surge o silêncio. Pela beleza da água, um verde-esmeralda que nunca vi antes, escolheria Poço do Céu. A da Macumba tem uma densidade, um aspecto místico desafiador”.

 

Bracuí                                                                                        Macumba

Poço Verde

Monjolo

Apesar de já ter rodado o país fotografando quedas d’água, o fotógrafo viu que produzir um livro sobre o assunto necessitava de um recorte, “um universo específico para trabalhar, porque senão seriam 400 páginas”, brinca. Focar no estado do Rio foi um teste certeiro. Já quando a pergunta é “Por que retratar cachoeiras?”, a resposta vem com outro questionamento: “Você gosta de tomar banho de cachoeira? Existe uma interação histórica do homem com a água, faz parte de sua essência”. Siqueira já capturou também monumentos geológicos, cavernas da Bahia, Chapada Diamantina, entre outros presentes da natureza.

Se tratando de mostra na Galeria La Salle, no entanto, o veterano é estreante.  O mergulho por entre as curvas e declives do rio marca sua primeira mostra por aqui.

“Na seleção optei por apresentar duas fotos de 3X1 metros, panorâmicas. Serão muito grandes, por isso estou ansioso. É bacana a exposição se dar neste espaço de estudo, em um corredor. Facilita a vida das pessoas, levando arte a elas no dia a dia, e provoca algum tipo de reação. Vamos ver quantas vão parar para ler cada imagem”.  

Angelina Accetta, coordenadora do espaço, aposta em um número considerável, já que a Galeria além de tudo estará ambientada no cenário das cachoeiras. O verde irá se espalhar em vasos ao longo do percurso e o som das águas será pano de fundo. “O ambiente de passagem que é a Galeria proporciona a arte como sensação, por isso a ideia de criar um diálogo entre o som, a fotografia e as plantas da Florália de Niterói. Cruzar as diferentes linguagens aumenta a capacidade do cérebro de criar interconexões”.

A inauguração de “Água Doce” será às 18h30 no dia 1º de setembro, quinta-feira. 

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