A Galeria é um encontro de passagem. A arte prende o olhar, cativa a ponto de fazer o aluno, em direção à sala, dar um passo para trás e parar na frente daquela obra. A fotografia é a captura de passagens. O momento que nunca mais será o mesmo, a pessoa retratada que nunca mais será a mesma. A poesia eterniza de forma bem particular passagens. Sentimentos que afloram, situações que passam, mas também ficam, lembranças que viram memória documentada. A união dos três espaços, o físico e os dois campos de criação artística, dialoga, assim, com um substantivo muito repetido até este ponto do texto, o mesmo escolhido por Helenice Sardenberg para nomear sua primeira exposição: “Passagens”.

Com fotos e textos, a professora da casa apresenta até o fim de novembro visões construídas, literalmente, em curso, como explicou na inauguração da mostra, dia 23 de outubro: “Apresento nas fotos lugares por onde eu andei, já que viajo muito a trabalho, participo de Congressos. Ao mesmo tempo, trago Niterói, locais por onde passei e registrei algo, como o barco no Campo de São Bento. No caso de Taboquinhas, são imagens referentes à minha tese, pois fiz um estudo de caso no Doutorado sobre Itacaré, na Bahia. O nome da mostra vem dessa característica das minhas fotos, mas também porque as pessoas estão de passagem pelo blog e pelo Facebook criados para divulgar as poesias, além de todos estarmos de passagem pela vida”.

Os versos são um capítulo à parte nesta história, esboçados desde os tempos da Helenice menina. O hobby passou a ser compartilhado com o público há cerca de 7 anos, quando por sugestão de amigos, decidiu armazenar na internet as criações. Mesmo sem muita divulgação, a página “Passagem” no Facebook, criada dois anos após um blog de mesmo nome, possui um bom número de seguidores em relação ao de curtidas (São 972 likes e 956 pessoas que acompanham as postagens). A inspiração para escrever surge no cotidiano. “Às vezes é uma palavra que escuto, é uma música, às vezes é uma notícia de jornal, é uma cena que vejo na rua. Tanto que ando sempre com uma caneta e um papel, até dentro do carro. Surge em função da minha emoção do dia”, explica.

A fotografia, por sua vez, é mais recente. Helenice acompanhava de perto o trabalho profissional do companheiro Glauco – “me empolgava”, revela – até externalizar seu interesse aos discentes e receber um convite para saída fotográfica. Ele partia de um discente de Engenharia, também fotógrafo. “Meu aluno olhou as imagens que fiz na ocasião e me falou: Você não tem curso, mas a fotografia está aí, está no olhar, não necessariamente na técnica”, recordou Helenice, “Aquilo me estimulou, percebi que tinha bons clicks”. 

Em pouco tempo, a docente dialogava poesias e fotos. Para a Galeria La Salle, ela trouxe 30 textos e 46 imagens, mas não necessariamente relacionados, diferentemente do que ocorre nos portais. Isso porque a seleção ficou por conta de dois ex-alunos de Relações Internacionais, com supervisão da curadora e coordenadora do espaço, Angelina Accetta, uma equipe com carta branca de Helenice para montar a exposição.

E como é passar de professora – atualmente dos cursos de Administração, Direito, Engenharia de Produção, História e Pedagogia – a artista? A resposta está na ponta da língua: “Eu acho mais fácil estar na sala de aula (risos) Porque aqui trago este meu outro lado de forma mais transparente”. Em breve, os discentes poderão conhecê-lo de perto, em visita guiada na Galeria.

Leia uma das poesias de Helenice Sardenberg:    

FOTOGRAFIA

Fotografei a felicidade

A retratei com perfume

E tudo

Cheiro de jasmim

De terra molhada

Cheiro de capim

Fotografei a alegria

Galopando numa nuvem

Retratei-a colhendo estrelas

Fotografei, também, o amor

Mesmo que na esquina

De banda

Na dobra

O via ali

Segredando

Sorrindo pra mim

Fotografei a esperança

Essa que nunca morre

Fotografei-a colorida

Entrando por todas as frestas

Fotografei a verdade

Esparramando-se

Sem medo

Sem pudor

Entregue

Absoluta

E, por fim,

Fotografei Deus

E como zéfiro, brisa suave

Este se fez presente em mim            

Por Luiza Gould (texto e fotos)

Ascom Unilasalle-RJ