No início de 2020, após 28 de carreira, a economista Dirlene Silva passou pela primeira demissão da sua vida. O ano que começou com uma notícia inesperada, terminou com um reconhecimento especial. Em novembro, Dirlene foi eleita como uma das 25 Top Voices do LinkedIn. A lista anual, segundo a plataforma, destaca os 25 profissionais brasileiros que estão iniciando conversas relevantes na plataforma. “Estas pessoas estão ajudando nossa comunidade a atravessar as constantes mudanças no mundo do trabalho, assim como em setores específicos, com dicas para melhorar currículos, organizar home offices e encontrar o equilíbrio entre a vida pessoal e profissional. Enquanto a crise da Covid-19 continua a dominar nossas vidas, estas vozes estão fortalecendo comunidades em um momento crucial para nossos usuários”, explicou Rafael Kato, Editor-chefe para América Latina e Espanha no LinkedIn Notícias.
Dirlene, formada em Economia pela Universidade La Salle, trabalhou na área financeira de grandes instituições e, em 2020, decidiu abrir a DS Estratégias e Inteligência Financeira que tem como propósito de “Desmistificar economia e finanças” através da prestação de serviços de Consultoria, Coach e Mentoria. “Sempre me senti incomodada com o tabu em torno de economia e finanças que são considerados assuntos da elite. Não falamos sobre dinheiro na família ou entre amigos. Casais se divorciam por causa de dinheiro, famílias brigam por causa de heranças, pessoas são assassinadas e se matam por dívidas e mesmo assim não nos damos conta que economia e finanças fazem parte de nosso dia a dia”, contou. A partir daí, ela também começou a investir em geração de conteúdo no LinkedIn, especialmente conectado à diversidade e racismo: “Na minha época não existiam esses conceitos. Uma mulher negra, como eu, passou por muito preconceito e o comum era ficar calado sobre isso. Eu fico feliz que essa geração é muito posicionada e sempre que vejo algo sobre o tema tento promover uma discussão saudável”, conta.
Sobre carreira e educação
No artigo “Do Lixo a Paris” Dirlene conta sua trajetória de vida e a importância da educação. “Sinto um incomodo ao ver os crescentes e sedutores apelos em prol dos investimentos monetários, as famosas dicas de como enriquecer antes dos 30 anos e até listas de motivos dizendo que não vale a pena estudar”, ela justifica, já no início do texto. Dirlene, que foi criada pela mãe, conta que lidou com o preconceito desde muito cedo. “Passei minha infância inteirinha sendo chamada de “filha da empregada” e parte da adolescência sendo chamada de “filha da lixeira”, uma vez que minha mãe era gari. Até os 10 anos de idade vivi sem ter acesso a energia elétrica, água encanada ou banheiro”, relembra.
No sexto ano do ensino fundamental, conquistou uma bolsa de estudos no Colégio La Salle Canoas. “Estudava pela manhã e à tarde tinha que voltar à escola para as aulas de educação física. Logicamente, eu não tinha dinheiro para ir em casa e voltar e, mesmo se tivesse, a escola ficava no centro e eu morava no bairro mais afastado da cidade. Então, foi assim que eu comecei a frequentar a biblioteca. Nos dias da educação física, eu saia da aula e ia para o trabalho de minha mãe. Lá dividia com ela a marmita e depois partia rumo à biblioteca, permanecendo por lá até a hora da educação física”, explica. Cada livro que lia acendia uma luz em sua mente e munia Dirlene de aprendizados e autoconfiança para buscar seus sonho: ser uma economista. “Há quem diga que livros de autoajuda não ajudam ninguém, outros ainda dizem que estes livros só ajudam a editora e o autor a enriquecerem. Eu respeito todas opiniões. A verdade é que qualquer coisa ajuda quem quer ser ajudado e eu realmente estava disposta a me ajudar e mudar minha vida”, celebra.
Muito jovem, Dirlene já se interessava por temas como dívida externa e inflação, presentes nos noticiários. Quando concluiu o ensino médio e técnico em contabilidade ingressou em uma universidade. “Nessa universidade novamente sofri preconceito pela minha condição social, lá me disseram que não era lugar para mim porque eu tinha recursos escassos para bancar a universidade. De maneira traumática, eu decidi que não iria mais entregar mais dinheiro sacrificado para essa universidade e tranquei minha matrícula. Aguardei até que a Unilasalle abrisse o curso de Economia e voltei a estudar. Tive professores maravilhosos, tenho uma gratidão imensa. Cito aqui pessoa que marcou a minha vida que foi minha orientadora, professora Lúcia dos Santos Garcia, e trago ela - não somente por ser orientadora e um pessoa maravilhosa - mas por ela ter ensinado a mim, uma mulher negra, a importância de ações afirmativas. Eu não era favorável a essas ações e ela explicou qual a importância disso. Eu aprendi a importância de representatividade com uma mulher branca”, relembra.
Após a graduação, Dirlene estudou idiomas, fez intercâmbio em Buenos Aires, cursou mais de uma pós-graduação e ainda teve a oportunidade de realizar um Mestrado, cursado no Brasil e na França. “Fui para a cidade de Poitiers que fica a mais de 340 km de Paris. Estudava de manhã à noite na Université de Poitiers que foi fundada no ano 1431, ou seja, é mais antiga que nosso país. Em um final de semana peguei o trem e fui a Paris. Quando desembarquei na estação Montparnasse e avistei a Torre Eiffel me dei conta do que exatamente significava eu estar ali: A ‘filha da lixeira’ estava em Paris!”, conta em seu artigo publicado no LinkedIn.
Ela defende que as novas gerações busquem significado para suas vidas, também, por meio da educação: “Educação é o melhor investimento que você pode fazer, porque é capaz de gerar retornos que nunca antes foram pensados. O investimento monetário é investir em ter, o investimento em educação é duradouro, é investir em SER”.
Popularizando a educação financeira
Em suas publicações, Dirlene também aborda a temática das finanças. “Falar de dinheiro é um tabu que vem de crenças que nossos pais nos transmitem desde a infância, não por maldade, mas porque também foram criados assim. Eles diziam ‘dinheiro não dá em árvore’, ‘dinheiro não traz felicidade’, ‘dinheiro é o mal do mundo’”, contextualiza. “Gerenciar nosso dinheiro significa qualidade de vida. Eu prego que a gente desmistifique isso e traga para o tema para o dia a dia das famílias”, detalha. A principal dica é colocar todas as informações financeiras no papel, quando você ganha e gasta e, a partir daí, inicia um processo de gerenciamento financeiro.