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Em um extremo, a tinta saída da pipeta para cair na tela escarificada pela lâmina de bisturi. No outro, o carbono do lápis, em contato com o papel, fazendo nascer pássaros, meninos e até uma dupla de investigadores caninos. Na noite da última segunda-feira, dia 7, os dois espaços culturais do Unilasalle-RJ foram tomados simultaneamente pelas imagens. Enquanto na Galeria La Salle, a médica Otilia Lupi apresentava a pacientes e visitantes suas “Gaudianas”, na Varanda Cultural a editora Kimera lançava, com a presença dos autores, os livros “Charges para a sala de aula”, “Poleiros”, “Gino&Polaco: O caso Aníbal”, “Gino&Polaco: Flores para Marte”, além de “Dudu e o FlaxFlu”.  

A coordenadora do Núcleo de Arte e Cultura, Angelina Accetta, revezava entre os locais para prestigiar as duas manifestações artísticas. Na Galeria, ela apresentou cada quadro às suas alunas do curso de Pedagogia, que também puderam ouvir da própria artista um pouco do seu processo criativo. Inspirada nos vitrais de Antoni Gaudí (1852-1926), Otilia cria mesclando instrumentos habituais do mundo das artes, como o pincel, com ferramentas usadas na medicina, sua profissão. A infectologista da Fiocruz compartilhou na ocasião outra característica de seu trabalho, o gosto pelo desafio: “Fiz também faculdade de Filosofia e, na disciplina de lógica, parei para analisar o que acontece com todo mundo ao abrir a caixinha do lápis de cor. Sempre gastamos muito algumas cores e outras nem tocamos. Às vezes é o branco, o marrom, o roxo. Por que não uso todos? O que me limita? Comecei a indagar então se o artista é sempre livre, se há liberdade dentro do limitado e passei a sortear as cores que iria utilizar”.     

 

Dentro dos mesmos tons, ela faz emergir o único de cada obra, para a surpresa de espectadores como Gabriela Albuquerque, de 37 anos. A discente do 2º período de Pedagogia ressalta entre as telas os círculos com ares do mestre catalão, as tais “Gaudianas” que dão nome à mostra, mas podem também ser confundidas com vírus e bactérias, na opinião de sua idealizadora. “Ela nos mostra que, independente da profissão, qualquer um pode ser artista. Este olhar fora da caixa, a busca por expressões visuais diferentes me chamou atenção”, resumiu Gabriela.

A exposição fica em cartaz até o dia 30 deste mês, quando Otilia Lupi receberá de volta seus materiais para pintar. Também apresentados ao público, os subsídios para a criação já estão há algumas semanas na Galeria, deixando a artista “em abstinência”, como brinca. “Trazer os quadros para o Unilasalle-RJ me fez ter uma noção do quanto meus dois lados dialogam, até então era muito natural misturar o laboratório com o ateliê”, contou.

 

Fernando Mauro Mendes, de 76 anos, foi um dos visitantes a estabelecer a conexão subjetividade-objetividade. O engenheiro aposentado saiu de uma chikungunya depois do atendimento da Dra. Otilia, mas desconhecia a sua veia artística. “Na verdade, não sei se ciência e arte se separam”, disse durante a abertura, “O cientista busca descobertas, nesta procura ele tem que enveredar por caminhos não só científicos, tem que sair do caminho tradicional, do que já foi contado antes, precisa de imaginação. Uma teoria no fundo é uma obra de arte”. Mendes se encantou principalmente por um dos rascunhos de sua médica em lápis de cor, no qual há uma brincadeira com linhas criando um embate e, ao mesmo tempo, um encontro entre o azul e o verde.

 

LIVROS E CAFÉ

Do desenho da infectologista ao desenho dos ilustradores, quadrinistas, cartunistas. Marcelo Tiburcio Vanni tem experiência neste ofício. Na Varanda Cultural, ele relançou os dois quadrinhos de Gino & Polaco, criados há 25 anos, no início da carreira. O convite para tirar os personagens “do limbo” veio por acaso, de um editor que conheceu o trabalho dele na época, gostava dos cachorros/detetives e os guardou na memória. Recentemente, se mudou para o mesmo prédio de Tiburcio e reconheceu em quadros do hall os traços do artista. Bateu na porta dele para propor uma parceria com a Kimera.

“Foram meus primeiros livros, na época não existia computador, as impressões eram muito caras e, por isso, tudo foi feito em preto e branco. Utilizei os desenhos originais, mas precisei colori-los e aí vivi também uma autocrítica, vi como desenhava mal, é muito difícil pintar estas ilustrações”, desabafou entre risadas, “Como era jovem, também parti para o clichê. Agora a intenção é fazer um Gino&Polaco 3, e vou tentar dar uma consistência maior, ir além dos cachorrinhos saltitantes, sem tornar muito complexo para as crianças. Quero ficar em algo no caminho para uma ‘Luluzinha’, por exemplo”. O ilustrador adianta que no próximo livro, esse escrito agora, depois de salvar o mundo dos extraterrestres, a dupla vai sair de férias, sem deixar de lado, é claro, as confusões.  

 

E quando a inspiração vem do dia a dia com os alunos? É o caso de Marcio Malta, que já lecionou no curso de História do Unilasalle-RJ. Uma das obras que veio apresentar ao público é voltado aos professores. “’Charges para sala de aula’ é fruto de uma mostra que fiz aqui”, esclareceu, “Eu desenhava no quadro para explicar o conteúdo e comecei a documentar porque ficava com pena de apagar no final. Compartilhei o resultado na Galeria. Agora trago estas charges e outras, algumas inéditas, num total de 270 desenhos. Eles são separados por temas, como violência, Estado, para que o docente possa utilizar como ferramenta pedagógica. No site é disponibilizado o download”.

“Poleiros”, por sua vez, tem um segundo foco. Abordando a temática ecológica na literatura infanto-juvenil, Malta criou um passarinho amarelo, “talvez um canário”. O personagem é como o guia da narrativa aparecendo empoleirado, a cada página, em uma paisagem, para denunciar quem ataca o meio ambiente. O interesse pela preservação aumentou no autor desde que ele passou a ser vegetariano.

A noite também foi de estreia para “Dudu e o FlaxFlu”. No livro, Marcelo Santos e André Felipe abordam como, apesar da rivalidade, a arquibancada pode e deve ser território de confraternização. O próximo Café Cultural será no dia 25 de novembro, às 18h, quando Jackson Bentes, Wendel Freire, Marcelo Piantkoski e Michele Azambuja lançam “Infância e cultura digital”. 

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