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O assunto é sério, mas com o bom humor de Edwiges Zaccur o clima não ficou tão pesado. Muito pelo contrário, as risadas inundaram o Anfiteatro Egydio Lucas no 8º andar (Bloco B) do Unilasalle-RJ e os presentes saíram elogiando o jeito simples de falar aliado ao conhecimento de causa da palestrante. Ao lado de Carolina Barros Pimenta, Edwiges partilhou suas experiências na Pós-graduação à Distância em Educação de Jovens e Adultos (EJA) da UFF e levantou, em bate-papo com o público, a trajetória deste tipo de ensino no Brasil.  O encontro, ministrado pelo professor Ronald Quintanilha, ocorreu na última quarta-feira, dia 4 de maio.  

A dupla começou ressaltando a “dívida histórica” do país em relação à EJA. No início da República, por exemplo, discussões como a de Miguel Couto e Casper Líbero eram frequentes. Para Líbero ensinar os trabalhadores a ler era perigoso, pois eles iriam “largar a enxada”. Já Couto ia contra: “Mas uma sociedade não pode avançar se não vencer o cancro do analfabetismo”.

“Ambos tinham um olhar cheio de preconceito, claro que um à frente de seu oponente, mas vendo o analfabetismo como algo pior do que doença”, lembrou Edwiges, fazendo em seguida um paralelo com os tempos atuais:  “Enquanto um falava em apenas dois anos de estudo ou outro clamava por quatro. Se vocês analisarem, não avançamos muito porque as escolas de jovens e adultos são por semestre. Oito anos do Ensino Fundamental se transformam em quatro. É uma injustiça antiga”.

  

O primeiro passo para uma mudança de realidade está em dar aos alunos empoderamento. A professora defende que os estudantes precisam se ver como protagonistas de suas histórias, dotados de saberes que muitos homens ditos cultos não possuem, uma bandeira levantada por Paulo Freire. Ensinando no Nordeste, o pedagogo criou metodologia no qual usava as linguagens dos seus alunos e exaltava as sabedorias que eles tinham. Certa vez, por exemplo, Freire instigou os trabalhadores rurais a lhe fazerem perguntas (a cada erro o educador perdia pontos). Em contrapartida ele também questionava os analfabetos. O jogo terminou empatado.  

“O primeiro ato revolucionário de Paulo Freire foi resgatar esses sujeitos que se achavam o zero do zero à esquerda.  O que precisamos é descobrir o que o aluno do EJA sabe, apostar que todos eles precisam ser ouvidos e descobrir o conhecimento de cada um”, concluiu Edwiges após contar a história.  

Ao tratar do assunto, Carolina citou o Projeto Âncora, de São Paulo. Na escola, crianças de seis anos discutem qual atitude tomar após se darem conta do sumiço dos lápis. São convocadas assembleias onde os próprios alunos levantam possibilidades ("Vamos andar sempre com o material? Cada ambiente onde formos terá lápis?")

O ESPAÇO DA EJA

Outro ponto levantado no encontro, inclusive pela plateia, foi a forma como a EJA ainda é tratada, no próprio âmbito da educação. “Nos anos 1940 já víamos campanhas pedindo espaço para a Educação de Jovens e Adultos. Mas que espaço é esse? Um canto do sindicato, um canto de uma Igreja? O ensino na escola para essas pessoas é recente e ainda há muitos diretores que não querem cedê-lo”, afirmou Edwiges ao apontar os obstáculos que ainda precisamos ultrapassar.      

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