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Octavio Paz (1914-1998) era mexicano. Sua história, no entanto, não foi escrita tendo um único porto-seguro. Ainda criança, se mudou para os Estados Unidos, voltando à terra natal como universitário. Morou na Espanha, França, Japão e Índia. Como poeta, Paz deu ao México o único Prêmio Nobel de Literatura do país, título recebido em 1990, e deixou uma lição: “O que põe o mundo em movimento é a interação das diferenças; a vida é pluralidade”. A frase foi escolhida a dedo pela coordenadora da Galeria La Salle, Angelina Accetta, para compor o discurso proferido no dia 24 de maio. Àquela data, sua missão era recepcionar plateia de alunos e visitantes, dentre eles a Cônsul Geral do México no Rio de Janeiro, Linda Maria Dolores Munive Temoltzin. À sua volta, referências mexicanas, como o famoso sombreiro, ajudavam a criar o clima familiar buscado. Na semana em que o Unilasalle-RJ se voltou às cores e rostos daquele povo, a pluralidade foi palavra de ordem em auditórios, na cozinha, na Galeria e na Varanda Cultural.

Benvenidos! Para a abertura, no dia 22, Angelina elegeu o olhar voltado à ancestralidade, à “importância de pregar a cultura, de não fazê-la esquecer, como herança e como memória. Estamos aqui para deixar rastros”. No México, os sabores são responsáveis por parte significativa dessa lembrança, a ponto do chef Victor Fuentes afirmar: “perder nossas raízes gastronômicas pode ser o começo do fim de uma cultura”. Convidado para palestrar naquela manhã, Fuentes explicou os motivos que fizeram a culinária mexicana ser declarada pela Unesco, em 2000, patrimônio cultural imaterial da humanidade. “São práticas antigas, técnicas culinárias, costumes, modos de comportamento ancestrais de comunidades que parecem paradas no tempo. Para ser considerada patrimônio é preciso ter uma história, um ciclo”, esclareceu.

No caso do México, a tradição vem desde os maias, zapatecas, toltecas, teotihuacanos... Os povos originários de cada região do país passaram seus saberes adiante já que, como lembrou Fuentes, “você pode não conhecer seus tataravós, mas traz uma herança culinária deles”. No que tange ao cultivo, por exemplo, ainda há no México tanto as milpas, policulturas principalmente com a plantação de milho, feijão e abóbora, quanto as chinampas, acima de águas rasas ou lagoas. Também vem do passado a importância da partilha para os mexicanos, laço que fortalece o caráter comunitário de muitos grupos.

 

 

“Vou citar o exemplo dos mineiros. De manhã, às 5h, a vovozinha acordava e fazia taquitos, as tortillas de trigo; no norte do país, minha região, o trigo se popularizou mais do que o milho”, diferenciou, “O vovô ou o pai levava a quentinha num papel alumínio para o trabalho, com vinte tacos. Ele comia 10, o restante era para dividir, mas também comia os dos outros. E chegava falando em casa do chilli do taquito do amigo. As donas de casa passaram a compartilhar receitas e começou-se a se formar uma comida regional. Grandes cidades tendem a perder um pouco esta característica”.

A comida une um mesmo grupo, mas, igualmente, diferentes culturas, como Fuentes buscou demonstrar já na cozinha. O papo prosseguiu entre tomates, pimentas e abacates, com receita de guacamole. A produção foi a muitas mãos, a partir da ajuda dos alunos do Energia do Sabor, projeto social da Escola de Gastronomia, patrocinado pela Gas Natural Fenosa. No dia 22, a gastronomia foi responsável por criar intercâmbios, mas eles também emergiram na palestra da noite, sobre política exterior. O responsável pelo Escritório Internacional do Unilasalle-RJ e diretor da Associação Internacional de Universidades Lassalistas, Carlos Frederico Coelho, dividiu mesa de debate com o cônsul de Comunicação e Cultura do México no Rio, Adolfo Zepeda. Enquanto o lassalista trouxe as contribuições de sua pesquisa de doutorado, sobre os acordos comerciais entre Brasil e México, Zepeda compartilhou, com plateia de alunos de Relações Internacionais, uma mudança que percebe na futura área profissional deles:

“As Relações Internacionais sempre foram muito pensadas como um diálogo cara a cara entre duas pessoas que se encontram. Mas, a revolução na comunicação nos obriga a ser diplomatas muito mais adestrados na tecnologia, na diplomacia pública, em conhecer mais sobre a cultura de outros países, ter diálogos interculturais muito mais estreitos do que o simples informe que mandamos ao México sobre como está a situação política no Brasil. O campo diplomático se amplia muitíssimo”.

 

Zepeda foi a ponte entre o Unilasalle-RJ e o Consulado do México no Rio de Janeiro, trazendo exposições e atrações para compor a semana voltada ao México, junto da mostra “Relatos desde la piel”, emprestada pelo MiMuseo, da La Salle Bajío. Partiu dele o convite à Cônsul Linda Temoltzin, que visitou o caminho cultural do centro universitário no encerramento, dia 24 de maio. Em discurso na Varanda Cultural, suas primeiras palavras foram para atestar “grande emoção” pelo fato dos universitários “dedicarem este espaço e este tempo ao meu país”. Linda revelou aos presentes que tem “alma lassalista”, por ter estudado em escola da Rede durante o Ensino Médio. Das lembranças da época, ela ressaltou a missão educadora dos Irmãos, além de desejar mais vocações para o legado deixado por São João Batista De La Salle. Já sobre os laços entre México e Brasil, a Cônsul citou a copresença na América Latina, além dos diálogos comerciais. “México é uma nação de rostos, de gente que sente, que constrói, de gente de muita vida”, atestou, “Tem uma opção grande de mercado, extenso território, mas também dificuldades. Por isso, a relevância da maior cooperação a partir dos tratados de livre comércio. Uma das intenções de nosso governo é perdurar as relações econômicas com nosso irmão Brasil, integração que vem desde a nossa herança latina”.    

Se Linda citou as ligações econômicas, o reitor foi resgatar no futebol outros laços. “Podemos olhar a proximidade que existe entre nós, particularmente, em 1970, com a Copa. Foi em estádio no México que Brasil ganhou o campeonato. Os mexicanos torceram, estiveram ao nosso lado, nos apoiando. Fui a primeira vez ao México em 1983, e pude perceber que quando brasileiros e mexicanos se encontram, parece que somos irmãos, não existe competição”, reiterou Jardelino Menegat. Na ocasião, ele ainda frisou o desejo do Unilasalle-RJ em conseguir parcerias internacionais, como a firmada naquela mesma semana com a Universidade de Salamanca, na Espanha, que comemora seus 800 anos de existência.

Veja em fotos como foi a Semana do México:

Chef Victor Fuentes cozinha com jovens do projeto Energia do Sabor (22/05/2018)

 

 

 

Maquiagem e exibição de trabalhos artesanais temáticos na Varanda Cultural (23/05/2018)

 

 

 

Apresentação do Projeto Costurando Cantos e Contos + Academia de Dança Anna Gabriella Mov (23/05/2018)

 

 

 

Palestra México, uma nação multicultural (23/05/2018)

 

 

Inauguração das mostras 'Diego e Frida', 'Día de los muertos', 'Relatos desde la piel', 'Filatélica e numismática' (24/05/2018)

 

 

 

 

Por Luiza Gould

Fotos de Adriana Torres

Ascom Unilasalle-RJ

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