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“Pão é amor entre estranhos”. As palavras de Clarice Lispector sintetizam a razão de ser da 5ª Feira Gastronômica do Unilasalle-RJ e, não por acaso, foram impressas em um dos panos de linho que ambientaram a arte da panificação na Galeria La Salle. A combinação farinha e fermento – ou até mesmo sem ele, no caso do pão ázimo – estava no caminho cultural, mas também em barraquinhas dos alunos de Gastronomia, nas degustações de workshops, nas falas de quem lida diariamente com massa, sova, forno. Ao todo, foram quatro dias voltados ao pão e sua versatilidade no Unilasalle-RJ.

A programação se estendeu de 19 a 22 de março, e para fazer tudo acontecer, a partilha símbolo do próprio alimento serviu de incentivo, como afirmou a historiadora Ana Roldão, uma das organizadoras da feira. “Vivemos o que disse Clarice”, atestou na noite da abertura, “O que produzimos para apresentar agora é resultado do amor entre os alunos, os professores, os coordenadores, o centro universitário. Mesmo correndo de um lado para o outro, foi união, foi o querer”.

O espírito de colaboração, citado por Ana, chamou a atenção do reitor, para quem “é emocionante ver as pessoas trabalhando, se envolvendo”. Em diálogo com o nome da exposição “O Pão Nosso”, o Irmão Jardelino Menegat se voltou à oração do Pai Nosso, na qual um trecho se refere ao protagonista da Feira Gastronômica:

“Orar pelo pão nosso de cada dia é diferente de orar por todos os dias. Jesus nos ensina que devemos buscar Deus a cada dia, assim como o pão, a ajuda, o sustento de que precisamos. Precisamos, dia a dia, pedir amor, fé, fraternidade e não somente pedir uma vez que valha por muitas. Que ao redor do pão possamos ser mais irmãos”.  

Ainda na noite do dia 19, o chef Dhi Ferrari apresentou os cursos de Gastronomia do Unilasalle-RJ, Alex Ribeiro, proprietário da Padoca do Alex, deu palestra sobre fermentação natural, houve visita guiada à Galeria e foi servido coquetel aos presentes.

 

 

 

Acompanhe abaixo um compilado do que ocorreu em cada data.

Dia 20 – Culinária Brasileira

Especializado em doces e panificação, o chef Vinícius Elias abriu o segundo dia da Feira Gastronômica ensinando a fazer o brigadeiro da “moda”, porém, desmitificando a ideia de que o famoso brigadeiro gourmet deve ser feito com ingredientes muito caros. “Nada mais é do que um brigadeiro incrementado. Óbvio que priorizamos ingredientes de qualidade, mas não existe essa exigência de chocolate belga. Por que colocar chocolate belga, se o brigadeiro é brasileiro?”, indagou o chef.

 

 

Os brigadeiros de caramelo brulée e de red velvet fizeram sucesso com os participantes do workshop, entre eles, Juliana Raeder, que depois de aprender as receitas, já pensou em investir na venda dos docinhos. “Eu não sei fazer brigadeiro e agora quero aprender para poder vender. Quando surgiu a oportunidade, eu logo me interessei”, disse. Juliana ainda elogiou o chef, por ele ministrar o workshop de forma, segundo ela, “descontraída”: “Eu gostei da desenvoltura e da maneira com que me fez perceber coisas bobas, como o ponto do brigadeiro e quando eu devo desligar o fogo. A minha maior dúvida era como soltar o brigadeiro para ficar no ponto de enrolar. Eu estou muito motivada! Quando eu chegar em casa, vou fazer um monte de brigadeiros!”, concluiu a dona de casa de 39 anos.

Mais tarde, às 18 horas, foi a vez do chef Dhi Ferrari ministrar o workshop de pão de queijo. Ferrari iniciou a palestra prática, explicando que existem várias formas de fazer o pão, e não há uma mais gostosa que a outra. “Existem várias receitas, vários tipos, algumas são feitas com batata, e outras com alguns ingredientes diferentes. Essa que eu vou fazer é da minha avó, que era mineira, é um pão de queijo bem mineirinho”, brincou Ferrari.

 

Ruan Gomes, Leoni dos Santos e Lucas dos Santos marcaram presença no workshop, e fizeram questão de elogiar as palestras do dia 20. “Já fui apresentado à cozinha, não por nenhum curso, mas por gostar, cozinhar desde cedo. Aqui fiquei impressionado com a simplicidade. O requeijão, por exemplo, foi feito com leite de caixa. Pela consistência, achei que era algo mais complexo. É bom porque estamos aprendendo conteúdos novos”, concluiu Gomes, que junto dos amigos, pensa em tentar uma vaga no Projeto Energia do Sabor.

Fechando o primeiro dia de workshops, Vicente Maia pegou carona com Dhi Ferrari para realizar a oficina de “Canapés com pão de queijo”, onde ele ensinou a fazer acompanhamentos, do recheio de pizza ao salmão, para serem usados junto do tradicional pãozinho.

 

 

Chef e coordenador da Escola de Gastronomia do Unilasalle-RJ, Maia considera a Feira Gastronômica como uma oportunidade de divulgar as atividades que acontecem na Escola. “Essa feira nasceu atrelada ao projeto Energia do Sabor, e um dos objetivos é o entrosamento dos jovens com o público externo. Eles conseguem trabalhar em todas as áreas, tanto na culinária, quanto na panificação e na confeitaria”, explica.

Maia ainda comentou, em entrevista ao site do Unilasalle-RJ, como é a preparação da feira junto de seus alunos: “Eles começam a trabalhar um mês antes, com uma pré-produção. Nós, professores, damos aulas sobre o tema da feira para que eles se aprofundem no que realmente irão vivenciar aqui”. Já sobre os workshops, Vicente Maia afirmou ter se dedicado a artifícios para chamar a atenção do público, uma vez que, este ano, a Feira Gastronômica aconteceu na Varanda Cultural. “A reação do público é sempre boa, mas às vezes é difícil ministrar workshop em um lugar aberto, em que existem diversos outros focos passíveis de desviar a atenção. São pessoas passando, conversando... Por isso, procuro um apelo visual, ou musical”, finalizou o chef. O exemplo do que afirmou, Maia deu no dia seguinte, ao colocar quatro alunas no palco. Cada uma representou um ingrediente do prato ensinado, com direito a rodopios na hora em que a receita pede o uso do liquidificador.

 

 

Dia 21 – Culinária Italiana

Mascarpone, chocolate e café. O que esses itens têm em comum? Para o chef Vinícius Elias, a resposta é fácil: esses são os principais ingredientes do tiramissú, que foi o protagonista do primeiro workshop do dia 21 de março. A receita, de origem francesa, utiliza o queijo mascarpone, por ser mais cremoso que os demais queijos encontrados no comércio, e, apesar de ter o aspecto parecido com o do cream cheese, são diferentes no sabor e na porcentagem de gordura. As amostras, é claro, fizeram sucesso.

 

O segundo workshop do dia, contou com Dhi Ferrari, preparando as focaccias, pãozinho que pode ser servido com azeite ou antepastos. Em entrevista, Ferrari, que ministra aulas de Panificação e Confeitaria, contou sobre a expectativa dele e de seus alunos para aquela semana. “Gosto de me programar”, relatou, “Logo, quando a Cris Gonzalez me falou qual era o tema e que seria junto com a Ana Roldão, eu fiquei animado. É uma das áreas em que eu mais atuo, e o assunto é pouco abordado”.

Já sobre os alunos dos projetos Energia do Sabor e Jovem Confeiteiro, o chef conta que ficou preocupado, pois os pupilos “não estavam acostumados com grandes quantidades de pães”, entretanto, assume que todos deram conta do recado: “Geralmente, eu calculo um pão de 500 gramas para cada bancada, e para a feira, eles estavam preparando pães de 2 quilos. Eu vi que eles começaram a querer entender sobre pão”, conta o chef orgulhoso. Ferrari também se alegra diante da infraestrutura das barraquinhas, com venda de doces e salgados feitos pelos jovens do projeto. “Adorei o fato dos alunos poderem vender coisas que eles mesmo fazem, ficaram muito entusiasmados e é uma ótima oportunidade de começarem a empreender”, finalizou o chef.

 

O workshop “Antepastos”, de Vicente Maia, fechou o dia dedicado à culinária italiana. Como na véspera, o chef prosseguiu com a receita anterior, preparando três tipos de complementos para as focaccias feitas por Ferrari. O primeiro levava tomates secos, catupiry e queijo muçarela ralado; o segundo contava com abobrinhas e tomates cerejas para finalizar; e o terceiro acompanhamento era uma compota de pimentões.

 

 

Dia 22 – Culinária Contemporânea

O último dia da Feira Gastronômica se dedicou à culinária contemporânea, com foco nas receitas que estão em alta. O primeiro workshop ficou por conta da chef e nutricionista Mariana do Valle. Ela ensinou como preparar brownie feito à base de batata doce, seguindo a linha funcional, cuja proposta atrai cada vez mais adeptos.

 

Às 18 horas, foi a vez do público assistir a mais um workshop do chef Vinícius Elias, que, dessa vez, ensinou a fazer uma releitura da torta ópera, um verdadeiro “doce de vitrine”, como sugeria o nome do workshop. O doce francês, que geralmente possui dez camadas, foi feito de forma mais simples, porém, sem deixar a desejar frente à receita original.

 

Para fechar com chave de ouro, o chef Vicente Maia trouxe para a plateia mini-hambúrgueres gourmets. Maia preparou dois tipos de blends (mistura de dois ou mais cortes de carnes) e complementou com queijo, salada, e cebolas caramelizadas.

 

 

Por Camila Reis / Colaboração: Luiza Gould

Fotos de Beatriz Siqueira e Luana Bettini

Ascom Unilasalle-RJ

 

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