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Seis amigos saem do restaurante depois de um bom papo. Hora de voltar para casa. Imediatamente vários se oferecem para chamar o Uber. Rápido acionamento de celulares e tudo certo. Até que chega um táxi para deixar dois passageiros no restaurante. O motorista fica parado, esperando pelo grupo, de porta aberta. Benvenutti convida os amigos a entrarem. Uma resposta sintetiza a opinião geral: “Não, só falta dois minutos para o Uber chegar, paga no cartão, débito, é mais fácil”. A cena foi vivida nos Estados Unidos por Maurício Benvenutti, brasileiro, de 35 anos, alocado no Vale do Silício e sócio da StartSe, maior plataforma do país na conexão de empreendedores, investidores e mentores. No último dia 20, quinta-feira, ele veio lançar seu livro “Incansáveis” no Unilasalle-RJ, além de debater os caminhos da tecnologia, em palestra organizada pelo curso de Administração.

“Eu cresci no interior do Rio Grande do Sul, ia para a escola caminhando e minha mãe dizia: ‘Maurício, jamais entre no carro de estranhos, jamais’. Hoje eu tenho uma prima em São Paulo de 14 anos que fala: ‘Para mim segurança são as cinco estrelas do motorista do Uber”, e todo dia ela anda com estranhos no carro”, relatou o empresário durante o encontro, atestando como a inovação humana tem levado, nos últimos anos, à quebra de realidades até então estabelecidas.  

Outro caso é o do whatsApp. Começou com 40 funcionários e, de repente, faz executivos há anos dominando o setor de telecom se perguntarem onde erraram. Esses “empreendedores de garagem que engolem tradicionais corporações e criam oportunidades transformadoras” dão a tônica de sua obra, o livro de negócios já com mais vendas no país. “Incansáveis” surgiu do diário de bordo alimentado diariamente durante um ano, para Benvenutti não se esquecer do conteúdo aprendido a partir das experiências no Vale do Silício.

Lá fora conhecido como Silicon Valley, a região abriga desde a década de 1950 as maiores empresas da área tecnológica a nível mundial e sempre intrigou o menino da cidade de Vacari. “Como pode uma região tão pequena do nosso planeta impactar tanto o mundo?”, era sua questão recorrente. O local na Califórnia emerge como o coração a pulsar computadores,  internet, indústria de softwares e aplicativos, celulares. O ritmo deste grande motor, já a toda velocidade, só deve aumentar, pelo que o palestrante observa: “O que funcionou nos últimos cinquenta anos não vai funcionar nos próximos dez. Se queremos abrir um negócio, temos que usar técnicas muito diferentes do que aquelas utilizadas por empresas de sucesso no passado”.

Uma prova da afirmação é o gráfico do S&P 500, índice das 500 empresas mais negociadas na bolsa de Nova York. Os números mostram quanto tempo a companhia que conseguiu entrar neste ranking se manteve nele. Até 1960, a média era de 60 anos, seis décadas sendo altamente negociada, “na crista da onda”, nas palavras de Benvenutti. Hoje este período chega, no máximo, aos 20 anos. Está mais difícil se manter competitivo, e, simultaneamente, as pessoas estão mais abertas à inovação, uma conta que não fecha para as “gigantes”. Em outro diagrama, o profissional de TI apresentou como anda a adoção da tecnologia por 25% dos americanos. Quando a eletricidade foi inventada levou 46 anos para ser atingido este percentual. Com o telefone e o rádio a demora foi de 35 anos, 26 para a TV, 16 para o computador pessoal, 13 para o celular, sete para a internet e míseros três anos para o Uber ser usado por 1/4 dos habitantes dos Estados Unidos.

Neste contexto, Benvenutti aponta que está mais do que na hora das grandes se darem conta da impossibilidade de inovarem sozinhas. “Inovação não se faz mais em uma área de P&D, trancado no laboratório”, pondera, “E as empresas que já começam a acreditar nisso, se aproximam de onde a inovação acontece. No escritório em que eu trabalho, em São Francisco, a Rocket Space, há 150 startups, que são suportadas por cerca de 90 grandes corporações como Ambev, Coca-Cola, British Airways, Lego, Volkswagen”. A Blockbuster Inc. não seguiu o mesmo caminho. Aquela que já foi a maior rede de locadoras não aceitou comprar a Netflix quando a vanguarda das séries e filmes bateu à sua porta. Acabou por anunciar o fechamento das 300 lojas restantes em 2013.

De olho no futuro, Maurício Benvenutti também aproveitou a oportunidade no Unilasalle-RJ para listar os avanços que, na sua opinião, guardam surpresas para muito em breve. Conheça a lista:

1. GOOGLE CAR         

                   

“Realidade já no Vale do Silício, existem 40 carros como este circulando sozinhos, 100% autônomos, sem direção. E esse não é um investimento só do Google, mas também da Ford, da General Motors, da Tesla. O Uber já está rodando assim em Pittsburgh, através de uma tecnologia acoplada ao veículo, que transforma o carro normal em autônomo. Se fala que esta vai ser a primeira  fase da mudança. A partir de 2020 a lei que proíbe a comercialização deste tipo de automóvel vai deixar de existir. Ao mesmo tempo, começam a surgir projetos de lei municipais para proibir o uso de carros normais nas ruas, em São Francisco, por exemplo. Se realmente for comprovado que o carro autônomo diminui o número de mortes no trânsito, se de 10 mil reduzir para 500, vai ser um argumento igual ao do cigarro. Não se pode fumar mais em qualquer lugar devido aos malefícios à saúde”.

2. IMPRESSORA 3D

“Vai mudar completamente a forma como se produz, se transporta e se consome produtos. Atletas usaram o tênis da Under Armour com sola impressa por máquina 3D nas Olimpíadas do Rio. Ela está hoje como os computadores estavam depois da Segunda Guerra. Em 1950 as pessoas no Vale do Silício falavam no computador, mas não tinham ideia do real impacto que ele traria. Você já encontra uma impressora por US$ 300, US$ 400, está muito mais acessível. Para vocês terem uma ideia do que eu estou falando, tive um colega francês na pós que trabalhava na Louis Vuitton. Ele me falou: ‘Uma coisa que conversamos na empresa é que vendemos uma bolsa por US$ 5 mil a uma mulher que vai na loja comprar. Como vamos nos comportar enquanto marca quando esta mesma mulher puder comprar a matéria prima da bolsa e imprimi-la em casa? Sete casas na China já foram impressas nestas máquinas, a NASA desenvolveu um hambúrguer impresso em 3D com cheiro, gosto e propriedades da carne, pensando em como prover comida para os astronautas que vão para Marte. São seis meses de viagem para ir, seis para voltar. O problema é que essa carne ainda custa um pouquinho caro, são US$ 350 mil”.

3. INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL

“A cadeia de hotéis Hilton criou o Connie, o robô concierge. Você chega no hotel e conversa com ele, eu já testei nos Estados Unidos. O diálogo foi o seguinte:

- Connie, estou com fome, preciso comer, que lugar você me sugere?

- Que tipo de comida?

- Italiana.

- Perto ou longe? (Nesta hora pensei, vou pegá-lo!)

- O que é perto para você, Connie?

- Perto para mim é uma milha.

O adendo da Inteligência Artificial não é algo que você programe, uma resposta dentro daquele quadrado de possibilidades. O robô se assemelha a nós, usa o que aprende para tomar as decisões futuras. Imagina diagnósticos médicos online, o mercado de contabilidade, já tem hoje robôs que dão soluções básicas do Direito para advogados”. 

4. PROJETO MUNDO GOOGLE

“Este projeto vai levar internet de alta qualidade para o mundo inteiro for free, de graça. Já foi testado no Brasil inclusive. Em uma parceria com a NASA eles estão desenvolvendo grandes balões para circular o planeta e refletir Wi-Fi de alta velocidade, há 20 quilômetros de altitude. Será uma constelação de balões. Isto abre uma acessibilidade imensa. Cerca de quatro bilhões e meio de pessoas no mundo não têm internet. Comunidades da Ásia, da África, do interior da Amazônia, do Pantanal, ribeirinhos passam a receber informações em tempo real, educação, conhecimento”.

5. GERAÇÃO DE ENERGIA

“O mercado americano fornece um gerador de energia eólica para ser instalado no quintal de casa, como se fosse um poste. Custa US$ 1.700 e gera energia para uma casa de dois dormitórios durante quatro horas por dia. Se eu tenho um pouco mais de dinheiro, compro uns seis desses e vou poder ter energia por 16 horas. Só que daqui a uns cinco anos, com o avanço tecnológico, talvez custe US$ 5 mil para ter energia por 24 horas. Uma tecnologia de captação de um painel solar, caso preenchesse uma área do tamanho da Espanha, geraria energia para o mundo todo, sem precisar de nenhuma outra fonte”.

6. REALIDADE VIRTUAL

“Nos EUA escolas possuem óculos de realidade virtual feito com papelão junto do celular, que custa R$ 20. É possível uma experiência de ensino diferente, as crianças aprendem história romana dentro do Coliseu. Isso antigamente era impossível porque custava US$ 10 mil. Não é uma experiência super, mas é um começo”. 

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