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Um carioca entre doze irmãos baianos. Amigo de Donga (1889-1974), compositor, amigo de Heitor dos Prazeres (1898-1966), expoente do cavaquinho. Morador da Cidade Nova, introdutor do pandeiro no ritmo com cara de Brasil. João da Baiana (1887-1974) foi tudo isso e também autor de clássicos como “Batuque na cozinha sinhá não quer/Por causa do batuque eu queimei meu pé”, hoje sucesso na voz de Martinho da Vila. No ano em que o samba, do qual foi um dos maiores defensores, completa 100 anos, nada melhor do que cantar e tocar um mestre e seu gênero. A ginga do Rio de João Machado Mendes tomou conta da Varanda Cultural no dia 31 de outubro, em mais uma Mostra de Talentos.

Desta vez, o grupo a se apresentar no palco foi Um Amô, com participação especial de Alex Silva de Melo, aluno do 2º período de Pedagogia responsável por trazer a banda ao Unilasalle-RJ. A ideia surgiu na disciplina “Arte-Educação”, ministrada pela professora Angelina Accetta. Depois de ensinar aos alunos fundamentos, ela sugeriu o que chama de “metodologia triangular” como trabalho final. Os graduandos exercitaram a história da arte (realizando pesquisas sobre algum artista de sua escolha e o contexto no qual está inserido), a leitura de imagens e o fazer artístico. “Esta última etapa da AV2 é responsável por mostrar como o indivíduo se imbui da cultura, produz sua poética própria, provando que arte não é uma cópia”, explica a docente.

Sem pensar duas vezes, Melo optou por João da Baiana, “crucial na história do samba, mas pouco lembrado”. “Quando a Angelina propôs esta terceira etapa de levar o fazer-artístico para a sala, pensei imediatamente no Um Amô, que conheço há algum tempo. Apesar de não trabalharem exclusivamente com samba, propus a elas esta parceria e no fim deu tão certo que a apresentação saiu da sala para um lugar maior, a Varanda Cultural”. O músico e futuro pedagogo se refere a “elas” por ser uma trupe só de mulheres: Mariana Braga (voz, cavaquinho/violão), Thalita Santos (surdo), Allana Marinho (tamborim) e Ana Beatriz Tinoco (caixa).

Apesar de se lançarem há dois anos e meio com o ideal de apresentar o amor musicado em variados estilos e gerações, Thalita revelou em entrevista ao site do Unilasalle-RJ que o coração do quarteto bate mesmo é ao som do tamborim. “Nos conhecíamos do bloco que participamos há sete anos, o ‘Saias na Folia’, de Niterói. A Mariana, que é vocalista do ‘Saias’, participa de uma roda de samba todo o último sábado do mês no Quilombo do Grotão, e um dia fomos tocar com ela”, conta. A folia deu um retorno bom e a bateria logo decidiu sair do recuo e ir para a Sapucaí. A palinha no Grotão deu origem a uma banda “com cara de bloco temático”. “Passamos pelo sertanejo, forró, funk, MPB, pop, mas no fundo viemos do samba, três são de escola e a Mariana é de raiz. Fora que usamos os instrumentos da nossa praia para tocar os outros ritmos, provando que o samba é versátil”.

No repertório da apresentação, Um Amô e o convidado Alex Melo foram da pedra do sal ao samba de Dona Ivone Lara e Dorival Caymmi. O jongo, dança de roda de origem africana, acompanhado por tambores, foi como o aquecimento para contar uma história centenária, tendo como protagonista João da Baiana. “Ele, junto da Tia Ciata, fez vingar o samba, antigamente proibido, foi um dos caras da resistência, que lutou pelo hoje patrimônio nacional. Quisemos deixar clara na escolha das músicas a influência em artistas atuais”, explica Thalita, revelando ter sido “Batuque na Cozinha” um dos momentos ápices do show.

Ao término da cantoria, os pedidos de “Bis” puderam ser ouvidos de longe. “É aquele velho ditado, ‘Quem não gosta de samba, bom sujeito não é’, o ritmo contagia. As pessoas vão dividindo experiências e se reconhecendo. Levar o que é da nossa cultura para dentro da universidade é fundamental para difundir o que é nosso”, conclui a sambista.

Relembre aqui como foi quando Alex Melo trouxe ao Unilasalle-RJ a percussão do São Bloco. O também quarteto tem uma Oficina de Ritmos em São Gonçalo e participou do “Africanidades” no primeiro semestre. 

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