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A marca da guerra no muro da escola em Israel e a decisão de não parar as aulas. O ir além do muro da sala de aula brasileira para aprender com os sem-terra, que muito tem a ensinar. Cruzar fronteiras e descobrir o padre brasileiro em Roma conhecido do Irmão niteroiense. Se sentir estranho em uma escola nova e grande, mas ter o medo dissolvido pelo carinho. Essas são algumas lembranças dos vários lassalistas que, no mundo ou em casa, experimentaram uma identidade, aquela iniciada com São João Batista de La Salle. A abertura da Semana dedicada a ele no Unilasalle-RJ não poderia ter sido de outra forma na segunda-feira, 9 de maio.

“Mais do que ouvir sobre a vida e obra de La Salle pudemos conhecer o legado dele a partir de tantas histórias interessantes”, diria Eloisa Souto, coordenadora do curso de História, ao término dos “Diálogos Lassalistas”, resumindo o que foi o encontro. No palco do Auditório do 3º andar sofás e poltronas deram uma atmosfera de lar enquanto funcionários partilhavam relatos com pessoas da plateia. Mônica Jordão estava junto ao público. Aluna do 3º período de Pedagogia, ela contou como se sentiu acolhida quando mudou de colégio para estudar no La Salle Abel: “No começo eu passava muito tempo na capela. Me sentia sozinha, chorava, tinha saudades da minha antiga escola. Algumas vezes ou um aluno, ou um professor, ou um Irmão vinha até mim, queria saber: ‘O que está acontecendo? Posso ajudar de alguma forma?’”

Veja outras falas que, como essa, se destacaram ao longo da noite:

BIANCA ANTUNES – coordenadora do setor de Comunicação e Marketing

“Sou lassalista desde os 7 anos, quando entrei no La Salle Abel. As pessoas que estudaram ou estudam na instituição trazem com elas esse sentimento de se reconhecer em outros lugares. Durante viagem para Roma de liderança lassalista decidi passar em Assis, porque sou muito devota de São Francisco de Assis. Fui a uma capela e vi de longe um padre que estava com pulseira do Brasil. Fui conversar com ele. Fizemos uma oração, fui abençoada e ele me perguntou de onde eu era. Na mesmo hora que falei ‘da cidade de Niterói, no Rio de Janeiro’ ele afirmou: ‘Então você conhece o Irmão Amadeu. Já fui na casa dele na La Salle’. Ou seja, em qualquer lugar do mundo é possível encontrar uma pessoa que vivenciou a experiência lassalista. Foi uma confirmação de todos os anos que já passei aqui”.

 

BHIA TABERT –integrante do Setor de Ação Comunitária (SEAC)

“Tiveram dois momentos  importantes para eu sentir o quanto desta identidade lassalista estava presente em mim. O primeiro foi quando eu tinha 15 anos e participei de projeto em escola pública na periferia da minha cidade, no Sul. Durante um ano desenvolvemos atividades com professores e com alunos da educação infantil. Ali eu percebi que a missão não parava na minha escola. O segundo momento foi quando fiz 18 anos e passei uma semana com grupo de jovens em um assentamento de sem-terra. A preparação com Irmãos e docentes levou dois meses. Os assentamentos possuem escolas e junto daquelas pessoas pudemos aprender como as crianças, os filhos de integrantes do MST, estudam. Comíamos e dormíamos com eles, deixando para trás todo o preconceito que podia existir, todas as incertezas. Ser lassalista é isso, propagar a fraternidade, a fé, o serviço. É muito mais do que estar entre os muros do colégio ou da universidade”.

 

GUILHERME DIAS – professor de Relações Internacionais e coordenador de Extensão do Unilasalle-RJ

“Viajei com um grupo de alunos para Israel/Palestina em 2011 e quando chegamos na universidade lassalista em Belém percebemos um buraco no muro. A primeira coisa que fizemos foi perguntar o que era aquilo. A resposta foi: ‘Durante uma das primeiras intifadas um míssil nos atingiu, mas as aulas continuaram. Não podíamos reincidir da nossa missão por causa da guerra’. Quando um reitor de uma universidade católica, com 70% dos alunos mulçumanos, vira para você e te dá uma vivência dessas é impossível não se tocar. Não há condição que faça esses Irmãos abaixarem a cabeça, como pude extrair também de depoimento de alunos sobre temporada em Moçambique. Os relatos ressaltavam as condições complexas daquela região afastada da capital e como os Irmãos trabalham com os poucos recursos que tem para fazer a diferença na vida daquelas crianças. As imagens delas estudando embaixo da árvore, o quadro quebrado, encantam no sentido de você ver que nenhuma adversidade tira a alegria ou esmorece os seguidores de La Salle. Entra uma série de sentimentos, como a gratidão por poder partilhar desse tipo de valor, como a emoção também de ouvir crianças mexicanas dizendo que somos parecidos com os lassalistas de lá por termos todos uma humanidade grande. Ao voltar para casa nos damos conta que o nosso papel aqui é fazer dos estudantes seres humanos diferentes, pessoas melhores do que nós”.  

 

ELOISA SOUTO – coordenadora do curso de História

“Há um fio condutor que nos une. Além da filosofia, que realmente do século XVII até agora permanece como uma luz acesa, uma característica muito forte da Rede La Salle é o acolhimento. Associado a ele está a qualidade da educação para a autonomia do profissional que sai daqui, para ele ir onde quer ir, fazer o que quer fazer e se sensibilizar com o que é preciso. Aí vem o trabalho da Pastoral de aprimorar este olhar diferenciado para vocês no mercado de trabalho. A minha experiência vem desde a minha formação em História. A primeira turma que dei aula foi a do Colégio La Salle Abel. Há dez anos estou no Unilasalle-RJ. As semelhanças giram em torno da organização, eficiência, seriedade, simpatia, espiritualidade. E quantas atividades de extensão, de campo foram aqui retratadas? Não só no exterior, mas dentro do país. Se envolvam nelas!”  

 

LIVIA RIBEIRO – coordenadora do Setor de Ação Comunitária (SEAC)

“O fazer lassalista passa por questionamentos como: “Com que modelo de trabalho eu me comprometo? Onde eu quero gastar a minha energia vital? Em que projetos eu escolho investir o meu tempo?”. Eles nos remetem a La Salle. Pensem em um homem de família abastada, que abre mão de todas as prerrogativas de nobre para escolher os mais pobres das ruas de Reims e educá-los com o objetivo de fazer deles educadores de meninos também pobres da cidade. É mais do que dizer sim ou não e é algo presente em várias ações. Por exemplo, La Salle diz que o professor tem que sempre chegar antes, para fazer com que tudo esteja prontinho quando o aluno entra em sala. Sempre me impressionou a pontualidade dos nossos grandes eventos. É o compromisso com o outro da forma mais delicada, que estou aprendendo. Outro valor que me salta aos olhos é o de associação, este voto que os Irmãos fazem para além da obediência, pobreza e castidade. É o voto de que eles serão fiéis ao instituto, à missão de educar e que se comprometerão a sempre trabalharem juntos. Nós não somos religiosos, mas fazemos a associação inconscientemente”. 

 

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