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“O repórter me liga dizendo para eu voltar correndo para a sala de imprensa porque tinha uma bomba. Com o olho na câmera fui aproximando a minha teleobjetiva até ver pela lente que era o meu laboratório de revelação ali sendo averiguado pelo robô”. A história vem de 1996, Atlanta. Era a primeira Olimpíada de Alaor Filho, que levou um susto ao perder a credencial por um dia antes das competições por conta do engano. Poucos dias após a cena, ele presenciaria ao seu lado, mas sem a câmera para registrar, a explosão da bomba real, atentado que matou duas pessoas e feriu 122 naqueles Jogos. De lá para cá veio 2000, Sidney, 2004, Atenas, 2008, Pequim, 2012, Londres e mais fotografias, mais expressões de força dos atletas, mais imagens borradas pela velocidade, mais histórias de derrotas, de conquistas. Uma trajetória que será contada na Galeria La Salle em dois meses de exposição.

“Olimpíadas Ontem e Hoje” fica em cartaz de 13 de junho a 30 de agosto, com visitas gratuitas e abertas ao público. Na sua primeira mostra em Niterói, cidade onde mora há 30 anos, o fotógrafo esportivo exibe cerca de 50 cliques das Olimpíadas. E em agosto, quando os atletas competem, Alaor traz em primeira mão para o centro universitário as fotos históricas do Rio olímpico, atualizando a mostra. Nos painéis, ele convida para uma viagem pelos esportes e pelo emprego de diferentes técnicas fotográficas, como a usada na esgrima:

“As pessoas estão com máscara, fazem movimentos muito parecidos, fica muito igual. A primeira e única vez que fotografei o esporte foi em 2000 e me perguntei: “Como fazer diferente?” Apostei em múltipla exposição e velocidade baixa, saindo da foto congelada”.

Por duas vezes tendo registrado os Jogos para o Comitê Olímpico Brasileiro, Alaor não deixa de apostar também na captura do instante, o que o fascina. “No salto em distância, tenho algumas fotos que captam a onda de areia. É um tipo de fotografia que desperta muito interessa, porque o movimento é extremamente rápido”, explica, “O ser humano só tem a capacidade de registrar uma imagem se ela tiver até 1/16 de segundo. Mais do que isso enxergamos o borrão. Sabemos que aconteceu, mas não conseguimos congelar”.

O resultado é um trabalho diversificado que tem como carro-chefe a informação. Antes de tudo “fotojornalista”, nome que faz questão de usar, ele busca passar no máximo duas mensagens por foto, desfocando o fundo se for preciso ou fazendo cortes. No foco da lente fica a expressão facial e corporal, trazendo o impacto do momento. Afinal, o atleta é o protagonista. “Não preciso mostrar o remo ou o barco inteiro, mas o esforço de quem está ali remando”, diz.

Além das estrelas da mostra, as fotografias, ainda estará exposto barco do Projeto Grael idealizado para crianças. Torben Grael fundou em 1996, ao lado do irmão Lars, também iatista, o projeto que visa socializar jovens a partir das velas.  Brasileiro com o maior número de medalhas olímpicas, Torben foi retratado inúmeras vezes por Alaor e alguns dos momentos marcantes de sua carreira poderão ser vistos na mostra. Os apaixonados por esporte ainda poderão conhecer detalhes dos Jogos, como sua origem na Antiguidade grega em homenagem a Zeus. Encartes preparados pelo Jornal O Globo com estas curiosidades estarão logo na entrada da mostra.   

Com passagem por veículos como Última Hora (onde começou em 1988), Jornal do Brasil (11 anos na casa, seis deles sendo editor), O Globo e Agência Estado (editor até 2007), Alaor Filho ganhou o Prêmio Líbero Badaró em 1999 e o Esso na categoria Primeira Página em 2002. Sua foto apresenta Cafu erguendo a taça e, logo abaixo, o time do penta em comemoração. Hoje ele presta serviço fotográfico na Agência Mirá, uma criação sua. 

O veterano na carreira se diz ansioso para a estreia na cidade que defende com unhas e dentes. “No exterior pedem fotos do Rio de Janeiro, mas só mostro as de Niterói. Estou superfeliz com ‘Olimpíadas Ontem e Hoje’, animado. As pessoas vão ver fotos que não foram publicadas. Como trabalho no hard news, às vezes a foto é boa mas não foi publicada por, naquele momento, ter uma notícia mais urgente. Então vai ser uma chance de compartilhá-las com vocês”, convida.

Coordenadora da Galeria, Angelina Accetta Rojas faz coro: “As dimensões de um evento esportivo, especialmente um da magnitude dos Jogos Olímpicos, transcendem a competição em si. Alaor mostra, com muita sensibilidade, a expressão humana da superação e do sonho”.

 

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