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A tecnologia está presente em cada tela pintada à mão por Diego Moura. De que forma? A resposta à pergunta se encontra na ponta dos dedos que tocam outra tela, a do celular. É lá que o artista cria as formas depois reproduzidas em dimensões maiores, por meio de tintas e muita precisão. Foi assim que ele eternizou sua versão de Lady Gaga. “Eu amei isso! Como eu posso comprar?” Essas foram as palavras da “mother monster”, como ela mesma se intitula, ao descobrir pelo Twitter o quadro criado por Moura. Na estética do artista niteroiense, a cantora americana aparece com grandes olhos e uma boca que salta do rosto, da mesma forma que ele retratou outros famosos como David Bowie, Madonna, Amy Whinehouse, Karol Conka e Thiago Iorc. No caso de Gaga, no entanto, o amor de fã somava à obra um toque a mais de inspiração, ao reproduzir a capa do quinto álbum dela, “Joanne”. A entrega da arte e o encontro tão esperado por Moura já estava acertado com a produção da cantora para o Rock in Rio de 2017, mas o cancelamento da apresentação de Gaga por motivos de saúde adiou o sonho. Enquanto ele não se realiza, os brasileiros têm a chance de conhecer de perto o trabalho, assim como outras 14 obras de Moura em exposição na Galeria La Salle.

A mostra “Um dedo de arte: do digital ao orgânico” será inaugurada em 9 de maio, próxima quarta-feira, e permanece em cartaz até o dia 20 do mesmo mês, como parte da 16ª Semana de Museus. A iniciativa do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram) faz com que 1.130 espaços de cultura no país ofereçam ao público atividades especiais, desta vez unificadas pelo tema “Museus hiperconectados: novas abordagens, novos públicos”. O assunto não só interessa Moura, como também retrata seus modus operandi, uma vez sendo o smartphone instrumento importante no processo:

“Cursava Engenharia de Produção e depois decidi migrar para Design. A vida de artista plástico surgiu após uma exposição de Juan Miró no Espírito Santo, que fui a convite de uma amiga. Vendo os rabiscos e as cores, surgiu uma estética na minha cabeça e senti a necessidade de passar para o papel, para não perder. Fiz 20 desenhos e guardei. No retorno ao Rio, recebi uma notificação de que o bloco de notas do Iphone teria ferramenta de desenho. Foi quando decidi empregar aquelas ideias no celular. Depois de um traço, de outro, de achar combinações de cores tropicais, vi que era o caminho. Em dois meses, eu estava com 100 desenhos prontos”.

 

Atualmente, Moura já trabalha com outro aplicativo que permite “brincar” com doze traços, ao invés de três, além de proporcionar maior qualidade às artes digitais, vendidas para além das reproduções em tela.  Mais uma novidade é a busca de nova estética, das quais alguns trabalhos já estão prontos, como o quadro intitulado “O caçador”. As criações agora dão mais asas às imagens que o artista visualiza ao fechar os olhos. “Vejo luzes e, muitas vezes, formas. No caso do caçador, me apareceu a imagem de homem com chapéu por trás de uma moita”, explica Diego Moura, citando ainda como estímulo os projetos sociais de que participa. O contato com a ONG SOS Lixão de Itaoca, por exemplo, lhe rendeu uma criação. Não por acaso, o primeiro trabalho vendido por ele retratava uma personalidade escondida no cotidiano, e não uma celebridade. Em “Preta poder”, o niteroiense homenageou uma recepcionista negra que, com seu caloroso “bom dia”, mudava as manhãs do artista plástico.

É por entender esse ofício enquanto potencial agregador social, que Moura decidiu aceitar o convite de Angelina Accetta, coordenadora da Galeria La Salle, para quem o artista “nos proporciona a possibilidade de refletirmos sobre a função da arte como mediação e conexão com a realidade”. “Essa é minha segunda exposição, apesar de já ter recebido outros convites”, revela Diego Moura, “A Angelina se apaixonou pelo projeto e eu senti uma vontade dela de querer levar isso para os alunos, para quantas pessoas for possível, exatamente o que eu penso. Gosto de ouvir perguntas como ‘Isso é o quê?’, para parar, sentar e ficar horas conversando, com a pessoa saindo da mostra entendendo um pouco do cubismo, do surrealismo”. 

 

 

Por Luiza Gould

Fotos de Camila Reis (capa e imagem vertical à direita), Roberto Moreira (imagem vertical à esquerda, com quadro da Lady Gaga ao fundo) e Alex Ramos (acima) 

Ascom Unilasalle-RJ

 

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