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Em 1994, o trabalho era na Guiné Bissau, o que faz Débora da Silva ter outra nacionalidade para além da brasileira. Os pais, missionários, estavam no país da África Ocidental quando a mãe deu à luz, durante uma missão. As raízes a fizeram viajar o mundo desde os 12 anos, levando o voluntariado para a China, Coreia do Norte, Senegal, Grécia, Itália, Turquia e Inglaterra. Oitenta e oito participantes do Seminário de Formação escutavam atentos cada capítulo da história de Débora, até chorarem junto com ela. Poucos minutos após a aluna do 3º período de Relações Internacionais falar da prisão injusta do pai, ao auxiliar crianças carentes no Senegal, a entrada dele no Auditório La Salle, e os aplausos que o público o dirigiu levaram a aluna às lágrimas, e, com ela, muito dos presentes. Se ali a emoção aflorou no ato de ouvir, no dia 24, seria a vez dela vir na forma da prática, com a subida lassalista ao Pé Pequeno. 

  

 

Fotos do arquivo pessoal de Débora da Silva

No dia 17, a formação contou com a fala de Débora, mas também da assistente social Cláudia Mara Barbosa, sobre a captação de recursos no terceiro setor, e de membros da ONG Casa da Juventude. Ligada a grupos de pastorais da juventude universitária de Niterói, a organização compartilhou relato sobre o pré-vestibular comunitário oferecido pelo grupo, dando chance de formação a muitos jovens.

No sábado seguinte, o espelho refletia o sorriso do menino diante do novo estilo com o corte do cabelo. A mesma alegria estava na cozinheira que ganhou seu dia de beleza, na avó com sacolas de roupa na mão para a neta, ou do morador no momento de receber os integrantes do Projeto Rondon para mostrar a eles sua realidade. Veja abaixo depoimentos que marcaram a terceira Ação Comunitária no Pé Pequeno:

Carlos Fonseca, 45 anos, presidente da Associação de Moradores

“A Ação Comunitária do Unilasalle é um benefício não só no presente como no futuro. O atendimento jurídico, médico, as doações de roupas, os aconselhamentos dentários para as crianças, tudo isso é muito importante para a nossa comunidade. Para ver um retorno, basta reparar o sorriso no rosto das pessoas, os moradores perguntam sempre qual será a próxima. Nós, da associação, vamos privilegiar muito esta parceria, não apenas aqui, mas em outras partes do bairro também”.  

Moradores Lelia e Piter Oliveira, 52 e 31 anos

L.O.: “Meu filho mais velho tem 32 anos e sinto o maior orgulho de ter criados todos eles aqui, todos eles formados. Nesse tempo, acompanhei o La Salle. Posso dizer que vocês estão de parabéns e não é de hoje”.

P.O.: “La Salle é exemplo, por ver capacidade de crescimento, por acreditar que as pessoas têm oportunidades”.

Moradora Valeria Maria Andrade Barbosa, 53 anos, cozinheira

 

“Moro há mais de 40 anos no Pé Pequeno e posso dizer que a comunidade passa uma semana comentando a vinda de vocês aqui. O levantamento das casas, por exemplo, é muito importante porque tem muita casa aqui prestes a cair. Eu gosto quando vocês vêm, faço de tudo um pouco. Já pintei a unha, agora vou cortar o cabelo, daqui a pouco vou passar na médica para ver a saúde. Esse ano tem mais gente e mais variedade de serviços. É bom também participar para além de hoje. Eu vou fazer o curso de doceira, quando abrir. Cozinheira tem que saber de tudo e de doce sei só o básico. Vai ser bom para o meu currículo”.   

Matheus Rocha, 19 anos, aluno do 1º período de Engenharia de Produção

“A Ação Comunitária soma na sua vida, por isso decidi ser voluntário assim que entrei na faculdade. Componho a equipe de logística e subimos previamente duas vezes para fazer divulgação de panfletos, cartazes, nos familiarizar com os moradores, já conhecê-los e apresentar as atividades que hoje trazemos”.

Thais D'Assumpção, colaboradora técnica-administrativa do Unilasalle-RJ

“Vim no ano passado e sempre volto pois vale à pena, somos ajudados quando nos oferecemos para ajudar. O maior sacrifício é acordar cedo, então não nos custa muito. Dessa vez, pude perceber uma adesão maior dos moradores. Já vi virem aqui interessados em fazer documento e, como esse serviço não é oferecido, irem embora. A maior adesão costuma ser por conta da doação de roupas, mas agora pude perceber que a comunidade está mais aberta, interessada em tudo”.

Roberto Primo e Suenne Riguette, docentes do Unilasalle-RJ e coordenadores do Projeto Rondon

R.P.: “Em outras universidades, como na Udesc, de Santa Catarina, na UESC de Ilhéus, é comum os rondonistas não fazerem só propostas para o projeto, mas também participarem de ações regionais. As instituições interrompem o semestre letivo por dez dias para levar 200 alunos para ações no próprio estado ou as vezes até em outros próximos. Assim, eles já preparam o aluno que queira participar futuramente do Rondon. É a preparação que buscamos hoje fazendo da participação no Pé Pequeno uma etapa do processo seletivo para ingressar na equipe”.

S.R.: “Vamos aprendendo com o tempo, aprimorando o processo seletivo e sanando falhas. Na ação dá para perceber quem não está com tanta vontade assim de participar. Porque externamente é muito bonito ficar 15 dias no interior do Tocantins desenvolvendo projetos para a comunidade. Mas não é simplesmente lindo. Exige muita preparação, são 10 meses de trabalho para aqueles 15 dias. Eu preciso selecionar alguém que tenha vontade de ser multiplicador, transformador, só aqui dá para perceber isso. Preciso de quem faça por amor, que não reclame do sol, do calor, que apresente o problema, como estarmos sem comida hoje, mas também a solução de já ter ido no Seu Joaquim que nos cedeu um carneiro. Aqui no Pé Pequeno eu vejo na prática a proatividade e ainda unimos o útil ao agradável, convidando seis estudantes que já foram rondonistas para serem avaliadores, porque eles continuam tendo vontade de fazer”.    

Ingrid Alves Lima, aluna do 8º período Engenharia de Produção e integrante Projeto Rondon

“Participei do Rondon em julho de 2015, fomos para Barão do Melgaço, no Mato Grosso, lá no Pantanal. Já tinha sido voluntária outras vezes, mas aquela experiência foi única. Agora vim dar um suporte para o pessoal que está participando do processo seletivo do Rondon, nunca tinha vindo no Pé Pequeno, sendo que está tão perto. Agrega muito no nosso bem-estar, nos sentimos melhor depois de fazer uma solidariedade como essa”.

Professor Antonio Carlos Barragan, Núcleo de Prática Jurídica

Seis atendimentos jurídicos

 

“A importância de trazemos a informação jurídica para a população nas comunidades é de gerar o conhecimento dos direitos e deveres que possuem como cidadãos. Muitas vezes, focamos apenas nos direitos e esquecemos dos deveres. Com isso, as pessoas deixam de viver a cidadania, principalmente o respeito ao próximo. Quanto mais conhecimento uma sociedade possui mais difícil é dela ser iludida, enganada porque quem estiver governando. Quanto mais ela puder saber para se proteger dentro do campo legal é melhor para se blindarem de eventuais injustiças que decorram de inconstitucionalidades”.

Karine Rocha, 21 anos, aluna do 7º período Produção e membro do Engenheiros sem Fronteiras

Sete currículos confeccionados

“Hoje o Engenheiros sem Fronteiras participa do banco de currículos e da recreação. A inserção no mercado de trabalho é fundamental para mudanças de vida. Esse serviço para eles é um incentivo até para a procura de formações. Informamos, por exemplo, sobre pré-vestibular social, que pode contribuir para a entrada em uma universidade federal. São dicas para quem quer formação antes do mercado, mas também para quem precisa já trabalhar, caso em que falamos de como se portar em uma entrevista de emprego e elaboramos o currículo”.  

Eduardo Cabaral, um dos responsáveis pela Barber Shop

Trinta cortes de cabelo oferecidos

 

“Foi um retorno muito bom, as pessoas cortavam o cabelo e não iam embora, ficavam olhando, trocando conosco, interagindo, se deixasse a molecada passava o dia todo lá. Nesta subida, o objetivo era ajudar pessoas com uma realidade diferente da nossa, mas senti que aconteceu justamente o contrário, nós saímos recebendo mais auxílio, pois voltamos com o ânimo de fazer melhor o nosso trabalho. Como a Barber Shop surge em Porto Alegre, lá temos mais fortalecidos os projetos sociais, aqui ainda estamos, aos poucos, buscando o engajamento. Mas queremos cada vez mais. Estar no Pé Pequeno nos motivou a fazer um workshop gratuito no centro universitário para a galera que quiser descer um fim de semana. São pessoas que podem virar futuros barbeiros, se encontrar na profissão, como um dia eu tive o primeiro contato”.

Claudio Porto, 26 anos, criador Street Store

Mais de 100 moradores saíram com bolsas da loja

“Nosso objetivo é, através da roupa e dos calçados, conseguir levantar a autoestima das pessoas. Muitas das vezes, quando se fala em doação, as pessoas acabam recebendo sacolas de roupas que podem nem servir. Aqui elas têm o livre-arbítrio de escolher, de trocar se precisarem. Ao final da ação, o que não teve saída fica na comunidade para aquele que não pôde vir ter a chance de receber também. O Unilasalle-RJ além de nos ajudar em termos de estrutura, abriu portas. Depois de divulgarmos essa parceria outras empresas vieram apoiar o Street e a busca por voluntariado cresceu. E também trouxe o projeto para Niterói, porque somos de São Gonçalo”.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Por Luiza Gould

Fotos de Camila Reis

Ascom Unilasalle-RJ

 

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