Menu

Cora Coralina (1889-1985) publicou seu primeiro livro aos 76 anos. O encontro tardio da doceira com a escrita, no entanto, não a impediu de fazer consistentes relatos sobre os becos e ruas do interior de Goiás, nem de deixar inúmeras lições, como esta: “Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”. Literatura para abrir uma matéria sobre tecnologia? Por que não? Afinal, David, Deborah e Gabriel são a materialização do que poetiza Cora. Discentes de cursos da área de Exatas, os três, ainda no primeiro período, trocaram as carteiras pela atuação à frente do quadro negro, compartilhando o que já sabem, assimilando conteúdos enquanto ministravam aulas. Eles abraçaram a iniciativa do Núcleo de Tecnologia e Inovação (NUTI) em parceria com o Setor de Ação Comunitária, ministrando, durante oito aulas, “Oficina de Montagem e Manutenção de Computadores”.

A oficina é mais um resultado do projeto “TI Verde”, coordenado, desde 2014, pelo professor Diogo Robaina. Há quatro anos ele motiva os alunos a buscarem computadores obsoletos, que possam ser consertados por eles mesmos e tenham algum fim promissor. As máquinas são monitoradas e manuseadas por estagiários de Sistema da Informação, dão prática aos discentes e são devolvidas à sociedade, ou encaminhadas para lixo eletrônico (ecologicamente correto) caso realmente não venham a ter utilidade.

O bônus trazido pela Ação Comunitária foi a ideia de repassar este conhecimento a quem precisa. Livia Ribeiro, coordenadora do SEAC, explica: “A proposta era ser um curso curto, na linha das ações nas quais buscamos redução da pobreza e aumento da renda. Atendemos a jovens que podem usar esses aprendizados para a geração de recursos alternativos”. Um deles é Erick Gaspar. No último dia 29, o aprendiz foi um dos que deixou para o trio de calouros um feedback por escrito da experiência. Classificando como nota 10 a iniciativa, Gaspar considerou o curso como quebra de paradigma, já que percebeu “não ser tão complicado” quanto imaginava conhecer um computador por dentro. “Hoje tenho mais noção do que é um equipamento de qualidade”, escreveu.              

Glicia Figueiredo, por sua vez, tem apenas 14 anos, mas já vê benefícios do curso lá na frente. “Sei identificar as peças, conheço agora a diferença entre termos como hardware e software”, contou a estudante do Ensino Fundamental, “Sempre gostei de computador, vim por isso, mas pode ser algo bom para o currículo no futuro, embora eu não saiba ainda o que quero fazer”. Para Glicia ainda é cedo, mas David Gagliano, de 19 anos, já investe no que, em breve, será sua profissão. Atualmente no 1º período de Engenharia de Produção, o jovem foi um dos que aceitou a missão de sair da sua zona de conforto.

    

“Eu faço manutenção de computadores, mas desta vez tive oportunidade de trabalhar com mais gente. Dei uma aula de hardware, treinamos várias vezes a montagem e desmontagem. Pegamos estes computadores que eram de propriedade do Unilasalle-RJ, consertamos, instalamos um sistema de distribuição livre e alguns já foram doados para quem precisa”, lembrou. O Centro Social Vicenta Maria, por exemplo, recebeu duas máquinas. No total, mais de 100 PCs seguem guardados no centro universitário, podendo ser usados para projetos como a oficina. 

Entre em Contato