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Em um filme os atores não se mexem, é tudo muito enrijecido, o cabelo está duro de laquê, a barba falsa é bem perceptível, em resumo, um “cinemão technicolor”. No outro extremo, o sangue que parece real, o foco na expressão da dor sentida até por quem está no sofá de casa. As mudanças do cinema nos últimos sessenta anos vão a partir da próxima sexta-feira, dia 17, ser conhecidas (e discutidas) em mostras sempre acompanhadas de especialista, no Unilasalle-RJ. A cada edição, um tema reunirá produções de épocas distintas e variados estilos. Ao final das sessões gratuitas, os cinéfilos participam de debate englobando pontos como enquadramento, planos, trabalho com cores, elenco, além das reflexões a respeito do assunto em pauta.  

Aproveitando o período da Quaresma, o primeiro Cine La Salle será sobre Jesus Cristo, mas Rodrigo Monteiro, crítico teatral com especialização em roteiro e direção de Arte, além de idealizador do projeto, promete: “Escolhemos Jesus agora por conta do Tempo Pascal, mas a ideia depois é falar sobre política, moda, direitos humanos, guerra, temas que nos façam conhecer um grande número de filmografias. A proposta é abordar a história do cinema e como as experiências estéticas se modificaram ao longo das décadas. O modo como Hollywood apresentou os últimos dias de Jesus nos anos 1960 teria outro impacto hoje. São as marcas dessas expressões que nos interessam”. Desta vez a seleção ficou assim: “O Rei dos Reis” (1961), de Nicholas Ray; “Jesus Cristo Superstar – Uma ópera rock” (1973), de Norman Jewison; “Jesus de Nazaré” (1977), de Franco Zeffirelli; “A última tentação de Cristo” (1988), de Martin Scorsese, e “A Paixão de Cristo” (2004), dirigido por Mel Gibson.

“Para exemplificar, ‘Jesus Cristo Superstar – Uma ópera rock’ é baseado em um musical da Broadway, de Andrew Lloyd Webber, mesmo autor que depois ficou famoso com sucessos como ‘Cats’ e ‘O Fantasma da Ópera’. O filme é a versão da vida de Jesus como se ela tivesse sido contada por Judas. Está no conjunto de outros filmes considerados hips como ‘Hair’ (1979) e ‘Goldspell - A esperança’ (1973), com atores usando calça boca de sino. Já ‘Jesus de Nazaré’ traz uma abordagem muito plástica, mérito do diretor italiano Zeffirelli, cujo enorme preciosismo estético também já havia sido visto no clássico ‘Romeu e Julieta’ (1968)”, diferencia Monteiro.

Estéticas opostas, por sua vez, da encenação de “Rei dos Reis”, o “cinemão” citado anteriormente ou de “A Paixão de Cristo”, a violência explícita e a preocupação com o realismo nos mais pequenos detalhes, como o chicote ferindo a pele durante o Calvário. São características perceptíveis implicitamente pelo espectador, diante de uma cultura a cada dia mais imagética do que leitora. “Talvez a gente não leia mais como há dez anos, mas com certeza nós vemos muito conteúdo do Youtube, Netflix. Existem mais meios de acesso à linguagem audiovisual”, analisa o crítico. O resultado desta equação é um público mais exigente, como lembra Angelina Accetta, coordenadora do Núcleo de Arte e Cultura: “A linguagem do cinema está ao alcance de todos nós que vivemos em sociedades audiovisuais e, à medida que conhecemos tal linguagem, aprimoramos nossa competência de ver e interpretar”.    

Em relação à discussão da vida de Cristo, quem vier conferir a semana inaugural do Cine La Salle neste formato irá muito além do espiritual. “Retomar a vida de Jesus é mais do que retomar o eixo transcendente, sagrado, é retomar também a pessoa dele”, pondera Livia Ribeiro, coordenadora do Setor de Ação Comunitária, “É uma série de produções com estéticas, mas também abordagens teológicas dissemelhantes. Elas são propícias para pensar questões políticas e históricas envolvidas em cada tempo. Para os que compartilham desta fé, Ele é o mesmo Jesus, mas para os que não compartilham existem muitas diferenças, do homem que expulsa os comerciantes do templo ao que é só caridade”.

EVENTO

CINE LA SALLE QUARESMA

Quando: De 17 de março a 28 de abril, das 16h às 18h30, todas as sextas-feiras

Onde: Anfiteatro Irmão Hilário, 3º andar — Unilasalle-RJ — Rua Gastão Gonçalves, 79, Santa Rosa

 

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