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A complexidade das notas e tons faz destes personagens cantores profissionais. E assim, na vocalização para demarcar território ou para o cortejo, se faz a música. Ela agora passeia pela Galeria de Arte La Salle, se abriga em cada canto e traz ao público a sensação de estar numa floresta. O som de fundo dos pássaros se soma ao verde trazido pelo Florália de Niterói para criar um ambiente no qual as cachoeiras são protagonistas. Foi inaugurada na última quinta-feira, 1º de setembro, a mostra “Água Doce”, com imagens de Ricardo Siqueira e textos de Luciano Rodrigues. Em cerca de 30 cliques, alguns com 3x1 metros, o fotógrafo convida a um mergulho em 12 quedas d'água do estado do Rio, registradas durante sete meses.

“A sensação é de que criamos janelas no corredor”, avaliou Siqueira ao ver a exposição pronta. Vinda diretamente de um livro com o mesmo nome, “Água Doce” se transfigurou em quadros este ano durante as Olimpíadas, na Lagoa Rodrigo de Freitas. Como o artista revelou na inauguração, o fato de agora a mostra chegar na Galeria é uma aposta de diversificação do público: “Aqui acredito que o pessoal vai experimentar de outra forma, com mais concentração, por estarem trabalhando, estudando, sem tanta pressa”.

Geólogo de formação, Ricardo Siqueira está em seu 14º livro e é um desses apaixonados por “aquelas imagens surgindo do nada na bandeja durante a revelação”. No caso da obra mais recente, são 119 páginas de fotografia e poesia sobre as cachoeiras de Andorinhas, Bracuí, Poço do Céu, Chuveirão, Circuito das Águas, Frades, Macumba, Poção da Maromba, Monjolo, Pedra Branca, Primatas e Poço Verde. Os primeiros visitantes destas cascatas paralisadas no tempo foram os alunos do 2º período de Pedagogia. A turma foi conferir “Água Doce” já no dia 1º.

 

“As fotos nos transportaram para aqueles lugares”, opinou Gleice Albuquerque, de 34 anos, “Deu uma vontade de ir nas cachoeiras e voltar rapidinho, de tão boa a energia. Às vezes vamos para outra cidade procurar um museu, mas temos aqui na Galeria uma opção próxima, de fácil acesso, rica”. A amiga Maria Auxiliadora de Souza, a mais experiente da trupe, com 53 anos e muito orgulho, lembrou da sinergia criada a partir do diálogo entre imagens, textos, plantas e a trilha sonora de pássaros: “Há mensagens de várias formas, a água e a arte juntas trazem o lúdico, o emocional, além da consciência ecológica”.

Já Elias dos Reis, de 36 anos, voltou à infância. A mostra o remeteu à casa de Silva Jardim. Um cano posicionado estrategicamente em cima da pedra criava uma cachoeira artificial para o banho. Antes mesmo da inauguração, Siqueira apostava que a memória afetiva estaria fortemente presente, como revelou em entrevista ao nosso site, ressaltando a relação histórica entre homem e água.

Na quinta-feira ele tocou novamente neste ponto. “O homem e a água estão muito ligados, mergulhar em uma cachoeira sempre teve a conotação de renovação espiritual, contato com Deus. O batizado era feito dentro da água e até hoje ela é usada”, disse na ocasião. Ao seu lado, Luciano Rodrigues fazia coro. Professor Mestre do curso de Pedagogia, foi ele o responsável pela parte escrita da obra, com alguns trechos escolhidos também para serem apreciados na mostra. Quatro volumes foram doados pela dupla para a Biblioteca La Salle. 

Poeta de nascimento, como se define, Rodrigues ainda não tinha tido a oportunidade de revelar esta sua faceta para ninguém além da mulher, a quem conquistou justamente com versos. Sobre a exposição ele avalia, com os olhos brilhando, ser como um filho nascendo. “É bom ver o resultado das pessoas passando por aqui. A Galeria La Salle incorporou cultura e meio ambiente”, comparou.

 

Se ali está estampada toda a beleza do Circuito das Águas, logo ao lado a natureza se transforma na mão que pega a pena para brincar com as palavras. “... A natureza criou um ambiente de cachoeiras em um único rio que se fosse um conto pareceria improvável”, descreve a passagem de Rodrigues. Já o verde do Poço do Céu entre as pedras no olhar de Siqueira vira “uma benção na terra” aos que a descobrem situada no “Rio Santo Antônio que por aqui opera seu milagre das águas...”.  “A ideia desde o início era unir a beleza das fotos com um certo tom poético sem deixar de informar questões histórias e ambientais, como as localidades estão tratando essas águas doces”, explicou o poeta, “Foi proposital para não ser um texto morto com fotos vivas”.    

Ainda dá tempo para conhecer estas diversas linguagens. “Água Doce” fica em cartaz na Galeria La Salle até dia 30 de setembro, com visitação gratuita e aberta ao público. A mostra integra a 10ª Primavera dos Museus, iniciativa do Ministério da Cultura, configurando no catálogo nacional de eventos. 

 

 

 

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