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Era 13 de março de 2013, segundo dia do conclave. A fumaça branca, na chaminé da Capela Sistina anunciava que já havia um sucessor para Bento XVI. O clima era de mais novidades do que de costume. Afinal, Bento não havia morrido, mas sim abdicado do cargo, cenário visto pela última vez só em Gregório XII, no ano de 1415. Com a divulgação do nome eleito, outras surpresas. Jorge Mario Bergogli surgia na sacada da Basílica de São Pedro às 20h30. De origem argentina, o homem simples se tornou o primeiro Papa nascido na América e o primeiro latino.  O Papa Francisco e o Ano da Misericórdia, idealizado por ele, foram tema de mesa redonda no Unilasalle-RJ dia 23 de junho. O encontro teve a organização da Pastoral Universitária da Arquidiocese de Niterói.

“Sede misericordiosos como o pai”. O pedido de Francisco, versículo retirado do Evangelho de São Lucas, marcou o anúncio do Ano Santo pelo Papa em 8 de dezembro de 2015. O Jubileu Extraordinário, desta vez, tem o seu cerne na Misericórdia de Deus, palavra que já estava presente em falas do líder da Igreja católica desde o início do ano passado e foi ouvida por várias vezes na noite da última quinta-feira. Na ocasião, o Padre José Otácio Oliveira Guedes, Emmanuel Paiva de Andrade, professor de Engenharia da UFF,  e Livia Ribeiro, coordenadora do Setor de Ação Comunitária (SEAC), trocaram ideias com os visitantes sobre os simbolismos por trás da temática.

Após abertura pelos jovens, com dinâmicas de interação entre os presentes, a mesa redonda se iniciou com explanação do Pe. Otácio. Citando, entre outros, São Tomás de Aquino, o sacerdote, Doutor em Teologia Bíblica, pregou a volta à essência da doutrina. “O agir de Jesus é regra para os cristãos, é como os católicos preenchem o conceito de Deus. Nós não podemos permitir um discurso sobre a verdade que não seja um discurso que vá às escrituras. Sinto que o Papa nos diz: ‘Atenção!’ Nós criamos uma pátina, uma casca com o discurso teológico. Mas precisamos voltar para o essencial, as páginas do Evangelho”.

Pe. Otácio relembrou ainda os conceitos de Ethos (moral), Logos (Razão) e Pathos (Emoção), de Aristóteles, para afirmar que “a misericórdia deve se tornar o Ethos dos cristãos, o princípio a reger tudo o que fazemos, o jeito de tratar as pessoas e não só a ajuda que damos”.

E se o tema é misericórdia, o que um engenheiro de produção faz entre os palestrantes? Foi essa a pergunta que Emmanuel Paiva fez no evento sobre ele próprio, descontraindo o ambiente. A resposta está na encíclica “Laudato si” (Louvado sejas), a chamada “Encíclica verde do Papa” e na bula “Misericordiae Vultus” (O rosto da misericórdia), esta última de proclamação do Ano Santo. Paiva estabeleceu uma conexão entre os dois documentos, publicados relativamente próximos.

“’Laudato si’ dialogou com o professor de engenharia. Foi uma carta que Francisco dirigiu para cada habitante deste planeta tão bonito, presente de Deus, mas tão maltratado”, explicou, “Nela, o Papa apresenta o conceito da ‘ecologia integral’. Nas suas palavras, precisamos ‘procurar soluções integrais que levem em conta as interações dos sistemas naturais entre si e dos sistemas naturais com os sociais. Isso tudo sem perder de vista a misericórdia, como lembra ele na bula de proclamação do Jubileu”. Para Paiva, apesar de abrir os olhos do homem para suas ações, Francisco não é em nenhum momento pessimista, mas sim esperançoso.            

Quando se trata do Papa, Livia Ribeiro é suspeita para opinar. Fã declarada do pontífice, seus olhos brilhavam na mesa redonda ao ressaltar as características dele. Chamada para integrar o grupo devido à ausência do Irmão Jardelino Menegat, reitor do Unilasalle-RJ, por motivos familiares, Livia propôs reflexões a partir de frases ditas por Francisco, ressaltando os gestos simples do líder: “Hoje eu vou falar um pouquinho de um cara que abre sua paresentação fazendo uma piada:  ‘A Igreja realmente está passando por um momento diferente já que teve que buscar no fim do mundo o Papa de agora’, para depois afirmar que não devemos ter medo nem da bondade nem da ternura”.

Humilde, mas firme em seus posicionamentos. Francisco surpreendeu muitos ao tocar em tabus para os católicos. Ele já pediu desculpas pelos atos de abuso praticados dentro da Igreja, se posicionou declaradamente contra o machismo, frisou que “católicos não precisam procriar ‘como coelhos’” e abordou até mesmo a homossexualidade: “Se uma pessoa é gay e busca a Deus, quem sou eu para julgá-lo?”. Da mesma forma, Livia também participou do debate sem papas na língua. “Ele diz que a fé não é algo decorativo, ornamental. Não é para eu carregar camisas com frases lindas sobre a Igreja, chegar em sala e repetir para o outro algum discurso preconceito envolvendo os negros, por exemplo”, alertou Livia, para quem “ser misericordioso é sentir a dor do outro no coração”.

A última parte da programação foi dedicada às perguntas. O público questionou, entre outros fatores, se a pobreza pregada significa abrir mão de tudo e quis saber como tratar da misericórdia para uma sociedade na qual o sistema prisional é tão inchado. “Escolher a vida mais simples não é optar por uma vida menos digna”, respondeu Livia para a primeira pergunta, sem deixar de colaborar para o pensamento crítico também da segunda: “Fomos nós que falhamos com um menino de 12 anos de arma na mão e não o contrário”.     

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