Menu

“O documentário ‘Happy’, para quem não teve a oportunidade de assistir, traz estudos sobre como a felicidade se desenvolve no ser humano. E uma das maiores descobertas atuais acerca da felicidade é que as pessoas que mais se consideram felizes são aquelas que dedicam a vida para além de si mesmas. Uma das grandes angústias do ser humano é não saber o que traz a felicidade, e gastamos rios de dinheiro na terapia. Diversas universidades vão dizer neste documentário que, se você tem um propósito de vida, e esse propósito saiu do seu umbigo em direção a outras pessoas, você aprende a ser mais feliz. Para uma pessoa que não tem condições de ser feliz em Nova York neste momento, o Pé Pequeno talvez seja uma boa opção”. Essa é uma daquelas verdades ditas com propriedade, em tom seguro, e em cujo ponto final fazem um frio correr a espinha, por serem tudo e mais um pouco. Mais porque incitam ao agir. Livia Ribeiro, coordenadora da Ação Comunitária (SEAC), foi essa voz de sabedoria, mas não no evento que justifica esta matéria. As frases foram ditas por ela na Aula Inaugural de Engenharias e Sistemas de Informação, repercutindo como eco pelos quatro cantos do Unilasalle-RJ. A prova é a quantidade de estudantes que vieram, em uma manhã de sábado, participar do Seminário de Formação 2017.2.

Nove horas. Dia 26 de agosto. Anfiteatro Irmão Hilário, capacidade de público: 50 pessoas. E algo importante: para participar de qualquer ação de voluntariado do semestre estar nesta hora, deste dia, neste lugar é obrigatório. Essas foram as informações recebidas pelos estudantes e o resultado surpreendeu a própria Livia. Foram tantos presentes que, no meio do seminário, foi preciso trocar de espaço, passar para o Auditório La Salle, logo ao lado. Alguns podem entender como estratégia a decisão de colocar o Seminário como prerrogativa para a prática, mas o SEAC via outra necessidade, a de conseguir, de fato, formar, instruir os futuros voluntários e não perder adesões, começando um período com mais de 120 interessados e terminando com 20 na ativa, como já havia ocorrido.

Em visita à sala abarrotada, o reitor do Unilasalle-RJ, Irmão Jardelino Menegat, parabenizou quem se deixou tocar pela mensagem da Ação Comunitária. “Aí começa a diferença da nossa instituição. Nós queremos ser bons na qualidade, na excelência, nos professores preparados, na estrutura magnífica que, graças a Deus, podemos oferecer aos nossos alunos, mas tem algumas coisas que vão fazendo a diferença, e esta é uma delas, queremos marcar o coração das pessoas”, atestou Menegat, “Quando faz-se algo para os outros faz-se para si. Pesquisas mostram que os jovens de hoje são altruístas, possuem uma dimensão espiritual e gostam de estar em grupos, três características que vocês nos demonstram hoje”.

 

O reitor falou logo após o primeiro palestrante do dia, Renato Marinho, gestor do Projeto More. A ONG criada em 2006 por Sergio Ponce visa, através de quatro pilares (Educação, Arte, Cultura e Esporte), mudar a realidade de crianças, adolescentes e de suas famílias nas comunidades Vila Ipiranga; Caramujo; Serrão; Juca Branco; Palmeiras; Santo Cristo; Coronel Leôncio; Nova Brasília, Engenhoca; Riodades; Teixeira de Freitas; Caixa D’água; e Boa Vista, todas na zona norte da cidade. “Recebemos crianças que não conhecem o respeito, o cuidado, o carinho porque a mãe é prostituta, o pai é traficante, veem de geração em geração uma avó que é dona do morro, envolvida também com o tráfico, órfãos entregues ao mundo das drogas. Isso tudo existe dentro de uma instituição como a nossa, abraçamos essas crianças”, conta.  

 

Na sede, no Fonseca, são vários os projetos, dentre eles o Crer e o Decolar. O primeiro atende crianças de 6 a 11 anos, o segundo, adolescentes de 12 a 18, oferecendo alimentação, reforço escolar, esportes, lazer, dança, arte, música. Sem receber, desde o ano passado, o patrocínio fixo que ganhava de instituição americana, foram muitas as barreiras que precisaram ser vencidas, outras contornadas, como o envio de cestas básicas às famílias, que foi reduzida para cinco para manter nos quatro locais de atendimento do More a comida na mesa durante o dia. Mas essa é uma história de superação, do grupo de música da ONG que cantou “We are the world”, teve seis milhões de visualizações no Youtube, se apresentou na abertura dos jogos Olímpicos do Rio e foi parar no “Encontro com Fátima Bernardes”. Não à toa, Marinho se orgulha por trabalhar, por 450 meninos e meninas “sem ganhar um real por isso”: “Eu gasto o meu combustível para estar lá, o meu tempo, o meu sapato, a minha blusa, o meu desodorante, o meu perfume, o meu condicionador, mas em prol do amor. Isso é o voluntariado”.  

O que motiva essa entrega? Talvez Julio D’Amato tenha a resposta. Psicólogo e docente do Unilasalle-RJ, ele protagonizou o segundo momento do Seminário de Formação. “Precisamos desde sempre de voluntários que cuidaram de nós e nos ajudaram para que estivéssemos hoje aqui. Em uma sociedade como a nossa, em contexto tão turbulento, se dispor a colaborar parece ser sim numa análise superficial alguma coisa muito positiva, mas dá para pensar para além disso”, iniciou o professor.

 

Em seguida, D’Amato afastaria a vinculação do senso comum entre voluntariado e religião e discutiria ética. “Os nossos políticos falam em ética o tempo todo e não agem, absolutamente, a partir dela.  Ou seja, ela tem sido mal-empregada”, avaliou, “É preciso que entendamos a ética enquanto um questionamento filosófico que tem a ver com o refletir em prol da coletividade. Isso está intrinsecamente ligado ao voluntariado, porque na medida em que pensamos no bem-estar de todos, estamos sendo éticos e voluntários, dois registros extremamente próximos, assim como cidadania”.

As observações do psicólogo geraram diversas trocas, com os alunos tendo a possibilidade de contarem suas próprias experiências e compartilharem também suas definições. Foi o caso de Caroline Faria, do Engenheiros sem Fronteiras, que não optou pela “caricatura do voluntariado, fazer para ser boazinha”. “Eu faço porque vejo como a única maneira de transformar a sociedade em que a gente vive. As soluções existem, mas às vezes não acontecem porque não são do interesse de quem está no poder, ou de outros atores. Nós como estudantes e profissionais podemos agir, nem que seja dedicando um dia por mês. Todo mundo paga imposto, contribui para manter escolas públicas, universidades públicas, mas uma pequena parcela da população consegue ir além”, refletiu a estudante de Engenharia da UFF.

Já no início da tarde, os 67 presentes foram divididos em grupos de ação para passar da teoria à mão na massa. Separados entre Desabrochar, Engenheiros sem Fronteiras e Pé Pequeno, os discentes traçaram as estratégias para as próximas ações do SEAC. 

DESABROCHAR

 

 

ENGENHEIROS SEM FRONTEIRAS

 

 

PÉ PEQUENO

 

Entre em Contato